Enfiar a carapuça

Hoje, iremos explicar duas expressões que contem referência a um tipo de chapéu de forma cónica feito de lã ou pano conhecido como barrete ou carapuça.

A primeira é enfiar um barrete ou a carapuça a alguém e descreve uma situação em que uma pessoa é enganada, burlada ou ludibriada. Em Lisboa, é frequente encontrar-se pessoas a vender na rua, mas os artigos que nos tentam vender, ou melhor dizendo impingir, nem sempre são da melhor qualidade ou podem até ser roubados. Portanto é necessário ter muito cuidado.

Esses vendedores abordam e tentam vender os seus artigos sobretudo aos turistas, não é?

Sim, porque frequentemente os locais já conhecem as suas “técnicas de venda” e não caem tão facilmente na ratoeira.

Mas os produtos comercializados por esses vendedores ambulantes são geralmente bastante mais baratos do que os vendidos nas lojas.

É verdade. Os seus produtos são mais baratos não apenas porque estes vendedores não pagam impostos nem têm despesas mas também porque a qualidade dos artigos que nos querem vender é inferior ou apresentam imperfeições ou defeitos e, por isso, é importante ter cuidado para não sermos enganados e evitar que nos enfiem um barrete.

Eis alguns exemplos de como se enfia a carapuça a alguém:

— Comprei um telefone no Martim Moniz e o vendedor assegurou-me que estava desbloqueado mas quando cheguei a casa e tentei colocar o meu cartão, descobri que não era verdade. Era um vendedor muito simpático mas considerando o preço do telemóvel eu devia ter desconfiado que estava a enfiar-me a carapuça!

— Na Feira da Ladra há imensas bicicletas à venda. E são todas baratíssimas.
— Tem cuidado! Muitas dessas bicicletas são roubadas e nunca se sabe se o dono apresentou queixa à polícia. Não deixes que te enfiem um barrete!

— Hoje tentaram vender-me um relógio de marca a €20.00 mas eu desconfiei da pechincha e não deixei que me enfiassem um barrete.

— Fui ao talho comprar um bife de alcatra mas o talhante tentou vender-me gato por lebre.
— Como assim?
— Eles não tinham alcatra e tentaram impingir-me uma carne cheia de gordura e nervos dizendo que era filé mignon… mas eu não fui na conversa fiada deles e fui a outro talho.
— Fizeste bem em não deixar que te enfiassem a carapuça.

A segunda expressão é: se a carapuça serviu que sugere uma admissão ou reconhecimento de culpa por parte de quem decide usar a dita carapuça, como nos seguintes exemplos:

— As pessoas que não gostam de ler são burras.
— Eu não gosto de ler, estás a chamar-me burra?
— Se a carapuça serve…

— Não gosto nada de piadas sobre louras!
— Porquê? A carapuça não te serve pois tu és morena…
— Essas piadas são um insulto a qualquer mulher, independentemente da cor do seu cabelo.

Esta expressão apresenta várias variações, não é?

Na realidade apenas o verbo varia mas sim ouve-se dizer: a carapuça é para quem lhe serve; a carapuça é para quem lhe a põe; e a carapuça é para quem a enfia, como nos seguintes exemplos:

— A honestidade é uma virtude que tu não tens…
— Estas a acusar-me de ser mentirosa?????
A carapuça é para quem a põe

— É bem verdade que a carapuça é para quem a enfia. Comentei com a minha sogra que não gostava nada de coscuvilhar a vida dos outros e ela ficou toda ofendida.
— Ninguém gosta que lhe digam para se meter na sua vida… seja direta ou indiretamente.

— O meu chefe acha que sou preguiçosa porque não entreguei o relatório a tempo e horas e repreendeu-me em público. Fiquei muito ofendida.
— A carapuça é para quem lhe serve.

Existe ainda o idiomatismo qual + adjectivo, qual carapuça que é usado quase exclusivamente no discurso oral e muito informal para sublinhar incredulidade ou dúvida sobre a afirmação que acabou de ser feita.

— A água está bastante fria.
Qual fria, qual carapuça! Está espetacular.

— A sopa está salgada.
Qual salgada, qual carapuça!!!! É assim mesmo que eu gosto!

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