Ilha de Moçambique, Moçambique, 27 abr 2024 (Lusa) – A instalação imersiva “Nakhoda e a Sereia“, da realizadora moçambicana Yara Costa, exibe o património cultural marítimo da Ilha de Moçambique, no norte do país, e alerta para impacto o das mudanças climáticas, numa viagem virtual até 2030.
”Nakhoda e a Sereia” é uma instalação de imersão, uma experiência imersiva sensorial que usa vários meios como som, projeções 360 graus e a realidade virtual para falar do património cultural marítimo, a cultura do mar, que é muito antiga aqui da Ilha de Moçambique e da região”, conta à Lusa Yara Costa, realizadora de cinema moçambicana.
A personagem principal da instalação, que já foi visitada desde julho de 2023 por 1.250 pessoas, situada à beira-mar e próxima do museu da ilha, é o ‘dhow’, veleiro tradicional de madeira, comandado pelo ‘nakhoda’, capitão experiente, conhecedor do mar, seus segredos e histórias, que “consegue ver o que ninguém mais vê e ouvir o que mais ninguém ouve”.
“Não se nasce ‘nakhoda’, não se é porque o pai foi, mas aprende-se a ser ‘nakhoda’, é o último alerta de Yara, antes de abrir a porta para a imersão, numa instalação em que se tem contacto físico com canoas, remos, o ‘dhow’, cordas e redes de pesca.
Munido de auscultadores, o visitante ouve histórias sobre o passado, presente e futuro, cantadas na língua local por homens e mulheres que vão ao mar todos os dias, enquanto passa de canoa em canoa dentro da instalação até chegar ao ‘dhow’, o barco principal.
Aí, além de ouvir, o visitante pode ver à sua volta, projetado em 360 graus, o percurso feito até chegar à posição do ‘nakhoda’ e assistir também à apanha de moluscos por mulheres, enquanto entoam hinos tradicionais e cantam entre si os conflitos e os problemas da comunidade.
“O visitante é convidado a usar um par de óculos de realidade virtual onde ele está completamente imerso e consegue viajar no tempo até 1749, quando saíam barcos daqui levando pessoas para serem vendidas para a escravatura, até 2030, no futuro, quando a água começa a subir e toma conta de tudo isto”, explica a realizadora.
Yara registou e exibe a história, os hábitos, a tradição para que não seja esquecida, mas também alerta e mostra as consequências das mudanças climáticas sobre a vida dos pescadores e das comunidades que vivem nas zonas costeiras.
“Tudo isso está a ser gravemente impactado e vai ser mais ainda ameaçado por conta dos efeitos da crise climática que estamos a viver”, refere, fazendo menção à importância do conhecimento tradicional ecológico na preservação do ecossistema.
“Todas estas práticas são integradas com a natureza, são altamente ecológicas, não poluem, são regenerativas”, frisa a realizadora de cinema moçambicana, apelando para a consulta e preservação da tradição.
A instalação “Nakhoda e a Sereia” está na Ilha de Moçambique, em Nampula, no norte do país, e desde a sua abertura no ano passado recebe visitas todos os dias, em sessões que participam no máximo duas pessoas, conta Yara Costa.
A instalação é assim uma viagem sobre a tradição do mar da Ilha de Moçambique, que dura pelo menos uma hora e acaba quando o visitante finalmente ocupa a posição do ‘nakhoda’: senta-se atrás do ‘dhow’ e controla o leme.
“Sem dúvida o que a gente observa é que as pessoas saem daqui mexidas, alguma coisa mexe com elas, seja pelas canções, seja um sentimento de lamentação, de descoberta ou um despertar da curiosidade”, conclui Yara.
LN // VM – Lusa/Fim
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