“Este é um erro comum. Vamos a um evento como este e nos apresentam como africanos de expressão portuguesa. Não. Somos países africanos de língua portuguesa, mas não temos que ser de expressão portuguesa. Eu sou angolano, de expressão angolana. Fica feio, é desagradável dizer que sou de expressão portuguesa. Chamem-nos, se necessário, de países africanos de língua portuguesa, o que é um espaço afetivo”, disse Ondjaki, ao lado da escritora moçambicana Paulina Chiziane, durante evento da 1ª Bienal do Livro e da Leitura, em Brasília (DF).
Com a obra traduzida para vários idiomas e há quatro anos vivendo no Brasil, Ondjaki se consagrou como uma das novas vozes de expressão de seu país. Não só pela ironia de seus textos, mas principalmente pela visão crítica com que descreve os problemas angolanos, país que se tornou independente de Portugal em 1975.
“A generalização que se faz a respeito da África cria expressões como ‘fulano é estudioso das literaturas africanas’. Caramba. Esse fulano precisaria ser um estudioso que se dedicasse a algo que nunca acaba, abarcando a todo um continente heterogêneo. Temos que começar a designar melhor as coisas”, declarou Ondjaki, criticando também o conceito de lusofonia.
“Não sei o que é lusofonia. Para ir a qualquer outro destes países eu preciso de visto. Por que um senegalês é francófono e um francês não é senagalófono? No meu caso, ou sou angolano ou sou cidadão do mundo”, destacou o autor. “Eu pertenço a um espaço que não obedece a vistos, a conceitos políticos, a reuniões de ministros, que é a comunidade de língua portuguesa, um espaço de amizade, de preferência com letras minúsculas.
“O escritor lamentou o fato de não poder optar, quando jovem estudante em Luanda, por aprender idiomas locais como o quibundo ou o ombundo, ainda hoje muito falados em seu país. Ele disse ainda que escreve suas obras utilizando o que chama de “Língua Desportuguesa”. Ler o artigo completo (Cenário mt)