Livro de poemas em português do chinês Tao Yuanming

“É a primeira obra com mais de 60 poemas de Tao Yuanming em português e insere-se no âmbito do projeto da editora Livros do Meio de divulgar a cultura chinesa em língua portuguesa”, disse à agência Lusa Carlos Morais José, o proprietário da editora, que lança o livro em parceria com o Instituto Cultural de Macau.

A Livros do Meio apostou na edição de uma versão bilingue (em português e chinês) do trabalho de Tao Yuanming (século IV e V) “porque este é um dos principais nomes da história da poesia chinesa, é muito conhecido na China e influenciou outros poetas”, sustentou.

Manuel Afonso Costa, que se começou a interessar por poesia chinesa há cerca de 30 anos ao adquirir uma antologia em França e desenvolveu esse entusiasmo quando se mudou para Macau nos anos 90, demorou cerca de dois anos a concluir a versão portuguesa dos poemas de Tao Yuanming, tendo encontrado algumas semelhanças com a sua própria poesia.

“Na poesia exprimo uma certa nostalgia do campo, que foi para mim uma espécie de paraíso da infância, pois vivia em Coimbra, onde estudava, mas as férias eram na aldeia – Zebreira, do concelho de Idanha-a-Nova -, onde havia um campo infinito, e isso ficou no meu imaginário como algo quase sagrado”, disse à Lusa.

Nos poemas de Tao, Manuel Afonso Costa diz que foi “encontrar uma poderosíssima pulsão pelo campo, pela aldeia, pela casa rural que tinha”, tendo constatado que “a maior parte daquilo que nele é reflexivo é muito parecido com o que é reflexivo na poesia clássica e até barroca europeia”.

“Ele reflete muito sobre a brevidade da vida, sobre a inexorabilidade da morte, a poesia dele está toda pontuada com reflexões existenciais – de que gosto muito -, daí que ele procure ir para o campo, porque sente que o tempo está a passar, e aí tem a sensação de que passa mais devagar”, explicou.

“Poemas de Tao Yuanming” é “uma antologia de poesia” do chinês, mas “tem também prosa e não andará muito longe daquilo que é a sua obra completa, porque não escreveu muito”, indicou o poeta português, referindo que o seu trabalho se baseou na ajuda de amigos que sabem chinês e nas versões francesa, inglesa e espanhola da obra de Tao.

O livro conta, por exemplo, com o poema “A fonte dos pessegueiros em flor”, que é estudado nas escolas na China e retrata uma “espécie de utopia, uma terra sem guerra, violência ou fome, mas que não se sabe onde fica”, disse.

Manuel Afonso Costa, de 64 anos, poeta e professor universitário, é licenciado em Engenharia Mecânica e em História, fez o mestrado em Cultura Política e doutoramento em Filosofia, viveu em França, entre 1989 e 1993, onde deu aulas de Cultura Portuguesa, e em Macau, entre 1993 e 2000, tendo regressado ao território em 2011 “com a crise” em Portugal.

Com quatro livros de poesia publicados – “O roubo da fala” (Ágora), “Os limites da obscuridade” (Caminho), “Os últimos lugares” (Assírio & Alvim) e “Caligrafia imperial e dias duvidosos” (Assírio & Alvim) -, prepara-se para lançar o quinto em 2014, “Memórias da casa da China e de outras visitas” (Assírio & Alvim), com influência da poesia chinesa.

Em novembro, a Livros do Meio prevê editar em livro “500 poemas chineses traduzidos para português”, com a Casa de Portugal, para assinalar “500 anos do encontro entre Portugal e a China” e, até ao fim do ano, vai ainda publicar “Contos da Água e do Vento”, da escritora de Macau Fernanda Dias, disse Carlos Morais José.

 

PNE // MLL – Lusa/Fim

Foto LUSA: Caligrafia chinesa, de grande qualidade, numa parede de Pequim.  A escrita, na cultura chinesa, é considerada como uma forma de expressão de excelência, pois alia pintura, poesia e literatura. 05 de julho de 2004.  EPA/Adrian Bradshaw

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