Cerca de 2.500 estudantes, do básico ao universitário, já aprendem português na Galiza, Espanha, mas os professores que lecionam queixam-se da falta de “compromisso” do Governo Regional, ao manter uma estrutura assente no “voluntarismo”.
O cenário foi traçado hoje à Lusa pela Associação de Docentes de Português na Galiza (ADPG), que identifica um sistema de ensino da língua portuguesa baseado na iniciativa dos professores.
“No secundário estão, aproximadamente, 600 alunos nas aulas de português de trinta escolas, mas quem leciona são professores de galego que, voluntariamente, resolvem criar estas aulas. Não há um corpo de professores de português”, explicou o dirigente Joseph Ghanime.
O ensino da língua naquela região espanhola é assegurado por cerca de 90 professores, segundo dados revelados à margem do 5.º encontro internacional de didática do português, promovido hoje pela ADPG em Rianjo.
“As aulas no secundário são dadas em período curricular, os alunos são avaliados de forma regular e fazem os exames nacionais. Mas, do ponto de vista estrutural, é uma solução fraca porque depende do voluntarismo dos professores, o que não acontece com outras línguas, como o inglês ou o francês”, sublinhou.
Joseph Ghanime recorda a aprovação este ano, no parlamento galego, por todos os partidos, de uma proposta de iniciativa popular para potenciar a utilização do português na região. Contudo, afirma, tardam “medidas concretas”, assim como “algum interesse” de Portugal para uma promoção “mais ambiciosa” da língua nacional no sistema educativo galego.
“Há uma falta de compromisso do Governo da Galiza para a introdução a sério do português no secundário, numa região que deveria ter uma relação estratégica não apenas com Portugal mas também com os países lusófonos. O português pode não ser a língua materna dos galegos mas também não será bem uma língua estrangeira”, observou o responsável.
O ensino do português já acontece também em dez escolas “primárias” da Galiza, envolvendo à volta de 200 alunos, além de colégios e outras escolas privadas.
Pelos sete polos galegos da Escola Oficial de Idiomas, uma instituição pública nacional, somam-se mais mil estudantes, procura justificada por razões de afinidade, académicas ou profissionais.
“O número de alunos de português e de alemão tem crescido muito nestas escolas, que por isso têm tido um papel importante na expansão a que estamos a assistir da língua. O crescimento económico em países como o Brasil ou Angola motiva o interesse, mas as afinidades entre os dois povos são enormes”, enfatiza Joseph Ghanime.
Nas contas da APDG, através de consultas diretas às escolas – por afirmarem não ter dados oficiais do Governo da Galiza -, estão ainda contabilizados mais de 500 alunos do ensino superior com aulas de português.
“Estamos a falar, ao todo, de uns 2.500 estudantes, mas podem ser mais, porque não temos todos os números. Com este volume já se justificava uma estrutura profissional, com professores contratados para o efeito, como o Governo Regional o faz para as outras línguas, e não assente no voluntarismo”, criticam estes docentes.
No encontro realizado hoje em Rianjo, professores da língua portuguesa, galegos e portugueses, abordaram as regras e formas de avaliação das provas de conhecimento organizadas pelos governos de Portugal e do Brasil.
“O objetivo é que os professores galegos possam preparar melhor os alunos da região que queiram fazer estas provas de português”, explicou ainda Joseph Ghanime.
Fonte: Ionline
Artigo relacionado:
Foto: Um grupo de galegos segura nas bandeiras de Portugal e da Galiza momentos antes de assistirem ao jogo do Mundial de Futebol da África do Sul entre Portugal e Espanha num ecrãn colocado na praça municipal de Valença, 29 Junho 2010. JOSE COELHO/LUSA