Tropeçavas nos astros desastradaQuase não tínhamos livros em casaE a cidade não tinha livrariaMas os livros que em nossa vida entraramSão como a radiação de um corpo negroApontando pra a expansão do UniversoPorque a frase, o conceito, o enredo, o verso(E, sem dúvida, sobretudo o verso)É o que pode lançar mundos no mundo.
Tropeçavas nos astros desastradaSem saber que a ventura e a desventuraDessa estrada que vai do nada ao nadaSão livros e o luar contra a cultura.
Os livros são objetos transcendentesMas podemos amá-los do amor táctilQue votamos aos maços de cigarroDomá-los, cultivá-los em aquários, Em estantes, gaiolas, em fogueirasOu lançá-los pra fora das janelas(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)Ou o que é muito pior por odiarmo-losPodemos simplesmente escrever um:
Encher de vãs palavras muitas páginasE de mais confusão as prateleiras.Tropeçavas nos astros desastradaMas pra mim foste a estrela entre as estrelas.
*Gravado na Real Gabinete Português de Leitura.
Imagem: sutilmenteferdinando.blogspot.com