Brasil coloca português entre línguas com maior crescimento nos EUA

“Acredito que o crescimento da economia no Brasil causou esta mudança. Isso e o fato de o país ter organizado o Campeonato do Mundo e receber os Jogos Olímpicos no próximo ano”, disse à Lusa o diretor do programa de português da Universidade de Columbia, José Antonio Castellanos-Pazos.

Segundo um estudo da Modern Language Association (MLA), existiam em final de 2013 12.415 alunos a aprender a língua portuguesa, mais do dobro do que existia em 1990 (6.118). Em quatro anos, surgiram mais 17 instituições com aulas de português, existindo agora 238.

No seu gabinete em Columbia, Castellanos-Pazos abre o seu portátil para mostrar como esta mudança se reflete na conceituada universidade nova-iorquina: em 2001, tinham 97 alunos de português, este ano têm mais do dobro, 213.

Há alguns anos, a universidade chegou a ter apenas Castellanos-Pazos a tempo inteiro. Hoje em dia, têm três professores, alguns alunos de mestrado ensinam pequenas unidades, e acabaram de contratar um professor assistente para o próximo ano eletivo.

“Basta dar uma olhadela pelas ofertas de emprego para verificar que há uma grande procura por professores de Português para lecionar a todos os níveis e com experiência em português para negócios”, disse à Lusa o adjunto de Coordenação de Ensino em Nova Iorque, António Oliveira, que não ficou surpreendido com o relatório da MLA.

O documento também não causou surpresa no gabinete do professor Luís Gonçalves, na Universidade de Princeton, em Nova Jérsia.

“As matriculas em aulas de português têm aumentado desde os anos 60, com um aumento significativo nos anos 80. Os números dos últimos cinco anos estão em linha com o que já acontece há algumas décadas”, disse Gonçalves à Lusa.

O português encontra várias explicações para este crescimento.

“A estabilidade política e o desenvolvimento económico do Brasil, a importância de Angola no mercado do petróleo e a sua economia cada vez mais complexa, e investimentos que Portugal tem feito em energias renováveis, por exemplo, criaram uma necessidade significativa de uma força de trabalho que fale português junto de varias industrias nos Estados Unidos”, explica o professor.

António Oliveira diz que a tendência de crescimento é visível noutros níveis de ensino – o número de alunos nas escolas comunitárias e de ensino regular aumentou 2.580, para 17.836 alunos no ano lectivo corrente –, mas que é natural que seja mais evidente nas universidades.

“Ao contrário do ensino secundário público, que reduziu o ensino das línguas nestes últimos anos em consequência dos cortes da comparticipação pública estadual praticamente por todo o país, as universidades adaptam-se muito mais depressa às condições do mercado e reagem imediatamente às mudanças”, explica o responsável do Instituto Camões.

Uma das alunas do professor Castellanos-Pazos em Columbia, Manuela Valeira dos Santos, acredita que falar português “é uma grande vantagem no mundo dos negócios e das relações internacionais.”

Dos Santos já fala espanhol e está a aprender mandarim, mas é quando diz que estuda português que recebe mais reações.

“Algumas pessoas ficam confusas com a minha escolha. Ainda há quem pense que se fala espanhol no Brasil e perguntam-se porque é que me interesso por Portugal”, explica.

Dos Santos nasceu nos Estados Unidos, filha de pais brasileiros, mas nunca teve aulas de português. Inscreveu-se nesta disciplina para melhorar a sua gramática e aprender a escrever.

Não existem muito alunos como ela, que escolhem português por razões familiares.

“Temos alguns alunos de herança, sobretudo a nível de pós-graduação, mas são uma minoria”, explica Castellanos-Pazos.

Os alunos de português têm, normalmente, um perfil especifico e objetivos bem definidos.

“São, na sua grande maioria, altamente motivados e chegam as aulas com um plano, não estão apenas a tentar cumprir um requisito do currículo. Têm objetivos profissionais e o português encaixa naquilo que procuram”, explica Gonçalves. “Reconhecem a oportunidade económica e uma maneira de se diferenciarem num mercado altamente competitivo.”

Apesar do crescimento constante das últimas décadas, existem desafios: em 2013, ano a que se refere o relatório da MLA, instituições de todo o país perceberam que os números estavam a descer.

Um grupo de 15 professores de todo os pais reuniu-se então, em dezembro, no Boston College, em Massachusetts, para discutir o problema.

“Apesar dos números da MLA mostrarem um aumento em relação a 2009, notámos descidas entre 2012 e 2013”, diz Castellanos-Pazos, que em Columbia registrou uma descida de 252 alunos para 206.

“Não chegamos a uma conclusão definitiva, mas concordámos que os problemas económicos no Brasil, que os consecutivos casos de corrupção e que o desaparecer do entusiasmo com o Campeonato do Mundo tinham algo a ver”, explica.

Nas semanas seguintes, as matriculas para o semestre da primavera começaram a chegar. Somando aos dados do outono, os números de alunos tornava a subir.

“Continuamos sem perceber se foi uma falha anómala ou representa algo mais”, diz Castellanos-Pazos. “Mas sabemos que os Jogos Olímpicos acontecem no próximo ano no Rio de Janeiro.”

AYS // PJA – Lusa/Fim

Fotos LUSA:

– Capoeira no centro de Manaus, Amazónia, Brasi. 22 de junho de 2014. JOSE SENA GOULAO/LUSA

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