Texto de Helena Sacadura Cabral (in Facebook)

Excerto de texto Helena Sacadura Cabral. (in A Bem da Nação)

— Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos negros de ‘afro-americanos’, com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado!

— As criadas dos anos 70 passaram a “empregadas domésticas” e preparam-se agora para receber a menção de “auxiliares de apoio doméstico”.

— De igual modo, extinguiram-se nas escolas os “contínuos” que passaram todos a “auxiliares da ação educativa” e agora são “assistentes operacionais”.

— Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por “delegados de informação médica”.

— E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em “técnicos de vendas”.

— O aborto eufemizou-se em “interrupção voluntária da gravidez”;

— Os gangs étnicos são “grupos de jovens”;

— Os operários fizeram-se de repente “colaboradores”;

— As fábricas, essas, vistas de dentro são “unidades produtivas” e vistas da estranja são “centros de decisão nacionais”.

— O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à “iliteracia” galopante.

— Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a suscetibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes “Conforto” e “Turística”.

— A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: “Sou mãe solteira…” ; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: “Tenho uma família monoparental…” – eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade implante.

— Aquietadas pela televisão, já se não veem por aí aos pinotes crianças irrequietas e “terroristas”; diz-se modernamente que têm um “comportamento disfuncional hiperactivo”.

— Do mesmo modo, e para felicidade dos “encarregados de educação”, os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, “crianças de desenvolvimento instável”.

— Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado “invisual”. (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos – mas o “politicamente correto” marimba-se para as regras gramaticais…)

— As putas passaram a ser “senhoras de alterne”.

— Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em “implementações”, “posturas pró-activas”, “políticas fracturantes” e outros barbarismos da linguagem.

— E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a “correção política” e o novo-riquismo linguístico.

Estamos “tramados” com este ‘novo português’; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress.

Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma ‘politicamente correta’.

Hoje não se fala português… linguareja-se!

(Helena Sacadura Cabral)

Subscreva as nossas informações
Scroll to Top