Há algumas semanas o Roberto Rodrigues, que é tudo na Associação de Amigos Daniel de Sá, falou-me dos seus planos para uma sessão sobre o Cristóvão de Aguiar. Haveria um diálogo entre dois amigos do autor e gostaria que fossem lidos textos. Se eu tinha sugestões.
Não hesitei: a história da cadelinha Girafa, do livro Vindima de Fogo, o segundo volume da trilogia Raiz Comovida, um texto monumental capaz de derreter o coração mais empedernido.
Tenho uma história a propósito. Foi na década de 80. Num colóquio sobre Língua Portuguesa em Toronto, tinham-me pedido para fazer a palração de abertura. Porque o público compareceu em número superior à lotação da sala, resolveram mudar a sessão de abertura para uma igreja portuguesa, que ficava mesmo ao lado.
Tinha preparado um texto para a ocasião, no entanto achei que, por se tratar de uma palestra inaugural, não ficaria mal ler uns nacos de boa prosa e poesia portuguesa a exemplificar a beleza da língua.
Chegada o momento de eu palrar, mandaram-me subir para um ambão e fiquei plantado diante da assembleia como se fosse fazer um sermão. Da minha seleção de textos constava esse da Girafa, do Cristóvão de Aguiar. Ainda antes do final da leitura eu já pressentia choro aqui e ali. Mas quanto mais eu lia, mais aumentava o coro e até ressaltavam solos de soluços.
Quer dizer, não fui padre mas preguei um sermão à antiga, daqueles de fazer chorar os fiéis.
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Alguns dos recebedores destas notas desconheciam esse escritor da minha rua, no Pico da Pedra, que estudou em Coimbra e por lá ficou a lecionar Inglês na Faculdade de Ciências.
Onésimo Teotónio Almeida
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