Menino Jesus da minha cor
(Fernando Sylvan, Timor-Leste)
Meu Natal Timor,
Meu primeiro Natal.
Quantos anos tinha?
Nunca o soube ao certo.
Minha Mãe-Menina
Fez-me o seu presépio:
Uma encosta arrancada ao [monte] Ramelau
Com uma gruta ausente
Cheia de Maromak [Deus]
E perfume de coco.
Um búfalo e um kuda [cavalo]
E o bafo quente dos seus pulmões.
E um menino sobre a palha de arroz
E folhas de cafeeiro.
Um menino branco
Igual aos que chegavam de longe.
– Ínan [mãe], quem é?
– É o Maromak-Filho e teu irmão!
E eu recuei, porque via no berço
Um menino rosado,
Um menino branco
Igual aos que chegavam de longe.
– Ele é, mais do que todos, teu irmão…
– Mas como pode ser um meu irmão?
– É teu irmão: firma-lhe bem os teus olhos, meu amor!
E eu, obedecendo,
Firmei-me todo n’Ele.
E vejo-O desde então
Também da minha cor!