‘kinguilas’ de Luanda, as mulheres que compram e vendem divisas nas ruas

Sem euros, dólares ou kwanzas e praticamente sem clientes, as ‘kinguilas‘ de Luanda, como são conhecidas as mulheres que compram e vendem divisas nas ruas, confessam viver dias “complicados”, em que o negócio não chega para sustentar a casa.

Tudo porque, para agravar a já prolongada falta de euros e dólares, devido à crise económica, financeira e cambial que Angola atravessa desde finais de 2014, a contínua retirada de moeda nacional de circulação, por decisão do banco central, tem provocado uma valorização do kwanza angolano, travando o negócio de rua.

Sem kwanzas para fazer negócio, a cotação de euros e dólares também não sobe, como explicou à Lusa Domingas Kamuquelengue, ‘kinguila’ no centro de Luanda, que hoje vende cada nota de 100 dólares a 37.000 kwanzas e a de 100 euros por 42.000 kwanzas, ambas as taxas mais de 40% acima do câmbio oficial.

Aos 62 anos, adianta que as dificuldades se agravam diariamente, devido à carência de divisas e igualmente de kwanzas no mercado informal: “Não temos clientes e há dias que nem sequer conseguimos trocar alguma nota. Está mesmo difícil”.

Com algumas notas na mão, juntamente com recargas para o saldo dos cartões de telemóvel pré-pagos para “fazer algum dinheiro”, Domingas Kamuquelengue tenta chamar o negócio, mas sem sucesso.

“A nossa vida está complicada”, desabafa.

O mesmo relato é feito à Lusa por Idalina da Silva Bumba, que há mais de 20 anos transaciona divisas nas ruas de Luanda. Contudo, diz, os últimos “têm sido péssimos” para o negócio.

“Já não temos aquela concorrência como antes quando tínhamos o dólar, o kwanza. Mas agora já não se faz sentir. Estamos a vender a nota de 100 dólares a 38.000 kwanzas”, contou.

O negócio é ilegal e tem merecido a condenação do Banco Nacional de Angola, que tem reforçado o apelo à intervenção da polícia.

Mesmo neste cenário, Idalina diz que as “dificuldades agravam-se diariamente” devido ao negócio e que já se viu “forçada a reduzir as refeições diárias dos filhos”.

“Os filhos estudam, precisam dinheiro para gastar com o táxi, pagar propinas e comprar material escolar e é complicado. Aqui temos carência de tudo, se não há divisa não há kwanzas e vice-versa, porque mesmo os empresários nos armazéns também reclamam”, explicou.

Noutro ponto da cidade de Luanda, a Lusa encontrou Claudete Joaquim Gaspar que alinha no mesmo discurso de apreensão devido à falta de clientes: “Em cinco ou mais horas aparecem um ou dois clientes e é muito complicado. Trocamos uma ou duas notas, ganhamos por nota 1.000 kwanzas [3,40 euros] e esse valor ou gastas para o almoço ou reservas para o jantar dos filhos em casa”, desabafou.

Oficialmente, a taxa de câmbio em Angola está fixada nos 255,4 kwanzas por cada dólar e nos 297,5 kwanzas por cada euro, de acordo com dados do banco central angolano.

LUSA
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