Grupo goês “Entre Nós” celebra os 50 anos do 25 de Abril de 1974 em Portugal

Goa esteve sob domínio português durante 451 anos (1510-1961) e integrou-se no território da União Indiana em 1961, catorze anos antes das ex-colónias africanas e treze antes da Revolução dos Cravos. 

Este ano, enquanto comemoramos os 50 anos do 25 de Abril de 1974, muitos eventos foram dedicados às antigas colónias portuguesas em África. No entanto, Goa parece ter sido deixada de lado, por dois motivos principais: primeiro, porque Goa não é um país independente, mas um dos 28 estados da Índia, incorporado na nação indiana contra a vontade do governo português da época. Em segundo lugar, porque a separação de Goa de Portugal ocorreu muito antes das outras ex-colónias africanas, marcando uma trajetória distinta na história das relações lusas.

A integração de Goa na Índia foi um processo que não podia ser contido, uma vez que, em 1947, a Índia obteve a independência da Inglaterra.  Portugal vivia então sob o governo de Salazar, que se recusava a dar independência a qualquer parcela do seu império ultramarino; todavia, Goa não estava isolada, mas no interior do país imenso que era a Índia. 

A 19 de dezembro de 1961, cinquenta mil soldados indianos entraram em Goa. Do lado português, estavam três mil e quinhentos soldados, a quem o governador Vassalo e Silva ordenou a rendição, contra a vontade de Salazar. Chegava-se ao fim de mais de quatro séculos de presença portuguesa na Índia. Poucos sabem, no entanto, que esta integração nunca foi formalizada pelo lado português e que, só depois da revolução de 25 de abril de 1974, o então Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Mário Soares, aceitou de forma oficial, a 31 de dezembro desse ano, a integração de Goa na Índia. Tão pouco é do conhecimento geral é que o último governador de Goa, Manuel António Vassalo e Silva (1899-1985) tornou-se um herói em Goa por ter poupado toda a população a um confronto desnecessário e suicida.

As associações gémeas Communicare Trust em Goa e PorGoa em Portugal, entenderam que Goa deveria fazer parte desta celebração e que a música deveria ser o seu elo de ligação, uma vez que é inegável a presença portuguesa na música goesa. O facto de ainda se cantar em português e a presença de instrumentos ocidentais como a guitarra acústica, o violino e o bandolim, são disso sinais evidentes. O grupo que propõem trazer a Portugal tem ainda uma singularidade: chama-se ENTRE NÓS.

Nadia Rebelo, Omar de Loiola Pereira, Selwyn Menezes e Nigel Vales são dos músicos goeses mais influentes, que criaram uma sinergia entre a música portuguesa (fado e música contemporânea) e a música goesa cantada em concanim, como o género musical do mandó e os cantaram. Cantam em português, concanim e inglês, línguas que coexistem em Goa. 

Sendo o conhecimento do público sobre a música de Goa  ainda reduzido, especialmente fora da grande Lisboa, a associação sem fins lucrativos PorGoa Communicare Trust –  cuja missão consiste em  desenvolver projetos no domínio da arte na comunidade, promovendo o diálogo entre várias culturas, em particular a cultura goesa e a cultura portuguesa – , apostou na vinda do grupo “Entre Nós”  a Portugal para dar a conhecer o que dele ficou neste pequeno território indiano, através da música, há mais de cinco séculos.

No dia 12 de setembro, o concerto de abertura será no Museu do Oriente, em Lisboa. Os bilhetes estão à venda no próprio Museu e na plataforma BOL, sob o nome “Há Goa Entre Nós: As Histórias e a Música.”

No dia 17 de setembro, o grupo irá viajará até Aveiro, onde irá interpretar o seu repertório na associação “Pais em Rede”. Esta associação, com mais de 10 de existência, dá apoio às famílias de crianças e jovens com necessidades especiais. Sendo também esse o objetivo dos promotores destes eventos, o grupo “Entre Nós” irá partilhar o seu repertório com estes jovens e criar uma pequena peça de teatro à volta de uma canção de embalar. 

No dia 21 de setembro o grupo irá atuar na Universidade de Aveiro, a convite da associação “Pais em Rede.” O valor dos bilhetes reverterá na sua totalidade para a associação, e, deste modo, o grupo estenderá o seu apoio a estas crianças e jovens.

No dia 18 de setembro, ainda em Aveiro, haverá lugar para mais uma troca de conhecimentos na Oficina de Música de Aveiro (OMA). Jovens estudantes de música irão interagir com os membros do grupo “Entre Nós” num workshop que terminará com uma apresentação musical com a participação de todos.

Nos dias 19 e 20 de setembro o grupo viajará até Ovar, cidade que tem demonstrado uma forte dimensão cultural. Ali, o grupo vai participar numa mesa-redonda na Landscape, uma agência de turismo que promove viagens culturais e de aventura com uma aposta forte no turismo sustentável e regenerativo. Um dos destinos que fomentam é, claro, Goa. Omar e Nadia irão partilhar alguns dos momentos mais significativos das suas vidas com o grupo de portugueses que irá visitar Goa no final do ano. Para encerrar a visita a Ovar, no dia 20 de setembro, irão participar no festival “Na Kalha,” num concerto ao ar livre na Praça das Galinhas, um concerto especial, porque atuarão em colaboração com o grupo português SENZA. Nuno Caldeira e Catarina Duarte já estiveram em Goa em 2015. A sua música inspira-se nas viagens que fazem, e por isso, esta colaboração com o grupo “Entre Nós” dará, seguramente, frutos.

No dia 22 de setembro vão ainda atuar no Bar da Graça que abriu recentemente em Lisboa.

Assim, em setembro, entre Lisboa, Aveiro e Ovar, Goa marcará a sua presença na celebração dos 50 anos do 25 de Abril de 1974. Fica aqui o convite para virmos conhecer e deixar entrar Goa em nós.

Na fotografia da esquerda para a direita: Nigel vales, Nadia Rebelo, Omar de Loiola Pereira e Selwyn Menezes.
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Nalini Sousa

Nalini Elvino de Sousa é uma portuguesa de origem goesa que vive em Goa há mais de 25 anos. É incapaz de estar quieta e essa inquietude leva-a assumir vários papéis: professora, realizadora, produtora e etnomusicóloga.
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