Essas e outras expressões foram aos poucos nos sendo apresentadas, enquanto nos embalávamos no ritmo do Fá d´Ambô, querendo identificar outras mais, tateando formas, arriscando uma frase e outra. O sorriso acolhedor dos annoboneses nos animava e nos acompanhava. Curiosos, queriam eles também descobrir o Português, e os sorrisos se alargavam quando ouviam bom dia, Deus lhe pague, segunda-feira…
Foi neste clima de descobertas e trocas que transcorreu o trabalho de pesquisa sobre a língua Fá d´Ambô na Ilha de Annobón, antiga possessão portuguesa na África Equatorial. Situada a apenas 180 km de São Tomé, Annobón foi densamente habitada por sãotomenses, muitos deles originários de Kabinda, Angola, que para ali trouxeram a língua portuguesa que então falavam.
Quando, em 1778, pelo tratado de El Pardo, a Ilha passou a ser possessão espanhola, o Espanhol se tornou a língua do Estado. A língua então falada em Annobón ou Fá d´Ambô permaneceu, no entanto, praticada em todos os âmbitos cotidianos, tornando-se, ao longo do tempo, constitutiva do modo de ser do annobonense. Com este forte vínculo cultural, o Fá d´Ambô se apresenta hoje como uma língua vigorosa, cantada e falada intensamente por todos, inclusive as crianças. A Gramática Descriptiva del Fá d´Ambô, de Armando Zamora Segorbe, recentemente lançada, marca o início de uma instrumentalização dessa língua, fundamental para sua promoção em espaços de circulação de escritas.
Por Rosângela Morello.
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