Línguas e Culturas da Lusofonia
Em Fevereiro, demos voz a vários blogs que declararam o seu amor à língua portuguesa, prestando tributo à multiplicidade de falares de mais de 200 milhões de pessoas à volta do mundo.
Em Maio, o Jornal @Verdade, nosso parceiro em Moçambique, escreveu sobre o Portuguêsenquanto língua da “Moçambicanidade”.
Sobre Timor Leste, foi analisado o papel das línguas na afirmação da identidade de um país que conta com 16 línguas nacionais e dezenas de dialectos. Já de Cabo Verde, reflexões nos blogs defendem que existem “lugares sociais” distintos para a língua nacional, o Crioulo, a par da língua oficial, português.
Num prisma político mais denso, manifestações online expõem um outro lado do espelho linguístico, com as reacções à proposta de entrada da Guiné Equatorial na Comunidade de Países de Língua Portuguesa, um país sem olhos para os Direitos Humanos.
Brasil: Caminhos do Desenvolvimento
A despeito da crise do cenário internacional, o Brasil vive um período de otimismo econômico estimulado pelo mercado interno de consumo. Para manter esse crescimento, a política desenvolvimentista em curso no país tem pressionado o meio ambiente e os direitos humanos.
A floresta amazônica é visada como terra para a agropecuária e como fonte de matéria-prima e de energia. O novo Código Florestal, marco regulatório do uso das florestas do país, suscitou questionamentos e levou pessoas às ruas contra o favorecimento da agropecuária e do desmatamento. O agronegócio “verde” dos biocombustíveis e o reflorestamento com eucaliptosrevelaram-se práticas insustentáveis, social e ambientalmente. A disputa por terra no agronegócio provocou, em 2011, assassinatos de ativistas e de lideranças indígenas. Contudo, o Brasil está a exportar seu modelo de agronegócio para outros países, como Moçambique.
A usina hidrelétrica de Belo Monte foi, sem dúvida, a maior causa de mobilização do ano, unindo ambientalistas, povos indígenas e populações ribeirinhas. Protestos no local e nas maiores cidades do país atraíram a atenção internacional e puseram em questão a política de direitos humanos do governo de Dilma Rousseff. Após o início da construção da usina, a mobilização não arrefeceu, mas adquiriu outros contornos, com um protesto Occupy tupiniquim e processos judiciais.
Essas e outras questões estão organizadas em quatro coberturas especiais: Floresta em Foco: Amazônia, Dossiê Belo Monte, Direitos Indígenas [en], e Desenvolvimento Global.
Portugal: Crise, Austeridade e Protestos
Desde a Manifestação da Geração à Rasca em Março até aos protestos globais do 15 de Outubro, Portugal viu, em 2011, a crise política e económica ganhar proporções, com a queda de um governo e a troika a entrar no país para o “resgate” financeiro da dívida pública.
Os internautas tomaram as redes sociais para se mobilizarem contra as severas medidas de austeridade, contra o “negócio” das agências de notação financeira mas também para encontrarem inspiração além fronteiras, como na Islândia, sobre outras formas de participação cidadã.
Com a página de cobertura especial Europa em Crise lançada em Setembro, o Global Voices tem servido de ponte linguística e proporcionado um maior diálogo entre os cidadãos “indignados” dos países europeus que estão a sofrer problemas semelhantes.
Angola: 32 Anos no Poder Suscitam Protestos
Em Angola, é cada vez mais visível, nas ruas e na internet, a revolta contra o governo de 32 anos de José Eduardo dos Santos. As manifestações teriam começado em Março, caso uma manobra de antecipação do governo não tivesse sido eficaz.
Em Setembro, o saldo de uma manifestação com forte carga policial sobre os manifestantes contou com sentenças de prisão para pelo menos 18 pessoas. Contra todas as expectativas, o movimento tem se consolidado ao mesmo tempo que prolifera o número de cidadãos repórteres no país.
Vídeo publicado no post Angola: Vídeos de Protesto Reprimido de Jovens em Luanda
Internet e cultura digital no Brasil
O acesso cada vez mais disseminado à internet no Brasil manifestou-se em 2011 muitas vezes de formas criativas, colectivas e eficazes. Tal foi o caso da mobilização em redes sociais para tirar umblog pedófilo do ar, e da chamada via Facebook à participação num protesto tão original como o doChurrascão da Gente Diferenciada, num bairro de classe alta em São Paulo.
Ao mesmo tempo, a arena online também foi palco de outros acontecimentos menos felizes ligados à cultura digital. Em Janeiro, o Ministério da Cultura anunciou o abandono da Creative Commons no seu site, um retrocesso flagrante nas políticas públicas ligadas à Internet e direitos autorais. Pouco tempo depois, em Março, o mesmo Ministério autorizou a famosa cantora Maria Bethânia a captar R$ 1, 3 milhão de reais para a criação de um blog de poesias, despertando assim a ira de blogueiros, tuiteiros e de ativistas na área da cultura.
Casos de censura online continuam e ultrapassam por vezes os limites do virtual, chegando a manifestar-se em atentados contra a vida de blogueiros críticos à autoridade.
Em Dezembro tomamos conhecimento de novas ameaças de morte contra Ricardo Gama, blogueiro militante sobre casos de abuso de poder e outras irregularidades por parte da polícia no Brasil, que já havia sido baleado em um atentadono Rio de Janeiro em Março. No final do ano, o motivo por trás da morte de Hamilton Alexandre, polémico blogueiro de Santa Catarina, “suicídio por enforcamento”, não é convincente para muitos internautas, que exigem nas redes sociais rigorosa apuração do caso.
Em 2012 continuaremos a escutar as histórias que estão a ser contadas por cidadãos do mundo através da internet, e a amplificá-las para o conhecimento de uma audiência global. Temos as portas abertas para quem quiser juntar-se ao que foi considerado em 2011 um dos 10 projetos mais legais da internet pela revista Super.
Colaborou na redacção deste post João Miguel Lima.
Escrito por Sara Moreira
FONTE: Global Voices