Quando queremos descrever uma situação em que, por qualquer motivo, tivemos dificuldade em distinguir duas coisas ou perceber com clareza absoluta alguma coisa, usamos a expressão de noite todos os gatos são pardos.
Há gatos de todas as cores, brancos, pretos, cinzentos, e até malhados de duas ou três cores — os famosos gatos-tartaruga.
Mas à noite, num local mal iluminado tudo o que se vê destes animais que tanto gostam de passear depois do sol se pôr é a sua silhueta. As cores que durante o dia os diferenciavam claramente não passam de um único tom acinzentado ou pardo que nos impede de os distinguir. Lida literalmente, a expressão faz referência a uma circunstância que nos impede de ver com absoluta clareza algo que está diante de nós.
Este adágio popular tem inclusivamente uma explicação física. À noite, em locais com pouca iluminação as células da retina humana que são sensíveis à luz e que nos permitem distinguir diferentes cores têm menor sensibilidade e consequentemente a nossa visão nocturna e menos precisa do que a diurna. Quando nos enganamos e, sem querer, confundimos algo que em circunstâncias diferentes não seria difícil de distinguir recorremos a esta expressão para justificar o nosso erro. Eis alguns exemplos:
— Quando fui cumprimentar os pais do meu namorado, estava lá a família dele toda e eu fiquei sem perceber quem era quem.
— Deixa lá… De noite todos os gatos são pardos. Com um pouco de sorte eles não perceberam que tu não sabias quem estavas a cumprimentar.
— Não gosto nada de restaurantes à meia-luz. Comer à luz das velas, pode até ser muito romântico, mas eu gosto de ver o que estou a comer.
— Tens medo que te sirvam, literalmente, gato por lebre?
— De noite todos os gatos são pardos...
— Não gosto nada de conduzir à noite.
— Porquê???
— Em primeiro lugar porque de noite, todos os gatos são pardos ou melhor dizendo é bastante mas difícil de perceber o que se atravessa à nossa frente na estrada. Tanto pode ser um bocado de lixo como um animal. E em segundo lugar porque gato escaldado de água fria tem medo. O único acidente que tive na vida foi à noite e por isso tenho más recordações.
Aí está outra expressão que pretende apresentar uma explicação. Quando nos acontece alguma coisa menos boa, instintivamente gostaríamos que o que quer que seja que nos aconteceu nunca se volte a repetir.
Um gato que se tenha queimado com água quente, vai, naturalmente, evitar voltar a ter contacto com água mesmo que esta esteja fria pois não saberá distinguir a temperatura e é suficientemente esperto para aprender a lição e não voltar a colocar-se numa situação de risco.
Um gato ou um qualquer outro animal minimamente inteligente que tenha a capacidade de aprender com um erro cometido. A expressão faz referência a um gato porque este animal tem a reputação de não gostar de água mas não é verdade. Há até gatos que são exímios pescadores ou, melhor dizendo, excelentes a pescar um peixinho fresco de dentro de água.
Podemos dar alguns exemplos de como a expressão se usa?
Claro.
— O meu filho recusa-se a ir ao higienista oral.
— Porquê?
— Olha, porque a primeira vez que o levei ao dentista ele ficou lá mais de uma hora e detestou a experiência.
— Gato escaldado, de água fria tem medo.
— A primeira vez que tentei esquiar, parti uma perna e agora fui convidada para fazer férias na neve mas não me apetece nada ir.
— É normal, gato escaldado, de água fria tem medo.
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gato escaldado de água fria tem medo — once burned, twice shy
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