Foram duas tardes bem passadas no auditório principal do Instituto Politécnico de Macau (IPM), onde 24 estudantes, representando a Universidade de Macau, o IPM e seis instituições de ensino superior da República Popular da China, duas das quais de Pequim e as demais de Xangai, Xian, Cantão e Tianjin, se envolveram num intenso e animado debate, totalmente em língua portuguesa, sobre temas relacionados com a educação e o ensino superior, centrando-se a fase final em questões da sociedade, numa perspectiva jurídica e de participação cívica. Tratou-se da 4.ª edição do Concurso de Debate do Ensino Superior em Português, co-organizado pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior do Governo da RAEM e pelo IPM.
Como bem referiu, na ocasião, o Prof. Choi Wai Hou, director da Escola de Línguas e Tradução do IPM, “no momento em que terminaram a 4.ª Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa e a comemoração do 10.º aniversário do estabelecimento do Fórum de Macau, a cooperação económica e comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa entrou num novo ciclo, enfrentando novas oportunidades”. Citando o Vice-Primeiro Ministro Wang Yang, do Conselho de Estado da China, lembrou depois que uma das oito novas medidas apresentadas nesse relevante evento consiste em “criar em Macau, através da cooperação, uma plataforma para a compartilha do pessoal bilingue qualificado em português e chinês e das informações sobre a cooperação empresarial”, pelo que se destacou, “o papel primordial de Macau enquanto ponte e plataforma entre a China e os Países de Língua Portuguesa, oferecendo-nos novas oportunidades para promover o ensino da língua portuguesa e reforçar a cooperação com as empresas que procuram tradutores e intérpretes de português, o que permite alargar o âmbito de empregabilidade dos nossos futuros graduados”.
De facto, ao longo de toda a última década, para satisfazer a procura crescente de tradutores e intérpretes, as instituições de ensino superior chinesas com cursos de língua portuguesa multiplicaram-se muito significativamente. Conforme o Prof. Ye Zhiliang, responsável pela coordenação dos Estudos Portugueses na Universidade de Línguas Estrangeiras de Pequim, numa comunicação apresentada no dia 8 do corrente, num seminário em Pequim em que também fui orador, até 1999 apenas duas universidades tinham cursos de língua portuguesa (a sua e a de Estudos Internacionais de Xangai), havendo agora 18, seis das quais em Pequim.
Foi neste contexto que também o IPM “tem aproveitado a sua posição geopolítica e historicamente concedida pela tradição secular forjada durante o intercâmbio intercultural entre a China e Portugal na área de ensino da língua portuguesa no sentido de promover, por um lado, o intercâmbio e mobilidades entre os estudantes e docentes das instituições de ensino superior locais e do interior da China e, por outro, elevar a qualidade do ensino da língua portuguesa, não só em Macau como também no interior da China”. E é sua profunda convicção que a realização de actividades extracurriculares como estas permite aos estudantes “alargar os seus horizontes culturais e adquirir conhecimentos que não se aprendem nas aulas”.
Concursos bem participados
Desde 2006 que o IPM vem organizando o Concurso de Declamação de Poesia em Português para estudantes locais, com oito edições já levadas a efeito, tendo sido agora concluída a quarta edição do Concurso de Debate do Ensino Superior em Língua Portuguesa, sempre com interessada e mais alargada participação. Estes concursos contribuíram, igualmente, para a promoção de um intercâmbio amistoso e útil entre os estudantes de Português das universidades chinesas, aproximando-as cada vez mais de Macau, estando elas empenhadas na promoção e divulgação da língua portuguesa e na formação de tradutores e intérpretes qualificados. Acredita-se, pois, que, também neste domínio, Macau pode assumir-se como plataforma eficaz de cooperação e intercâmbio, complementando outras importantes iniciativas de natureza comercial e cultural.
Conforme o regulamento, foram objectivos do Concurso de Debate promover a língua e cultura portuguesas, desenvolver a capacidade de expressão oral dos candidatos, nomeadamente a capacidade de argumentação, e fomentar o intercâmbio entre estudantes de Português de instituições de ensino superior de Macau e da China Continental, tendo os candidatos sido integrados em grupos de 3 elementos, em representação das respectivas instituições.
Constituíram o júri o presidente da Associação dos Advogados de Macau, Jorge Neto Valente, o presidente da Associação dos Macaenses, Henrique Miguel de Senna Fernandes e o autor deste artigo, na qualidade de presidente do Instituto Internacional de Macau (IIM). Apurados para a final os grupos do Instituto Politécnico de Macau e da Universidade de Línguas Estrangeiras de Pequim, foi atribuído o 1.º prémio ex-aequo às duas equipas, após difícil e demorada apreciação e deliberação, tendo ficado em 3.º lugar os representantes da Universidade de Comunicação da China. Os parâmetros de avaliação tiveram em conta a relevância do conteúdo, o espírito de equipa e as capacidades linguísticas, de raciocínio e de comunicação.
Muitos professores e estudantes marcaram presença e não quiseram ser meros espectadores, chegando a manifestar, exuberantemente, o apoio aos colegas no palco, incentivando-os. Também acompanharam atentamente os despiques travados, como convidados, o Cônsul-Geral de Portugal, o presidente do Instituto Português do Oriente, o presidente da Escola Portuguesa de Macau, a directora do Departamento de Estudos Portugueses da Universidade de Macau, a presidente da Casa de Portugal e outros responsáveis, fazendo saber que uma realização como esta, até pelos propósitos que a inspiraram, merece o seu estimulante reconhecimento.
Está, portanto, de parabéns o IPM pelo sucesso de mais uma bem organizada acção formativa, sendo justo salientar o trabalho preparatório de um dedicado grupo de docentes e, muito especialmente, a eficiente coordenação confiada ao professor Carlos Alves.
Um gratificante convívio
Em conversa com os estudantes e alguns dos seus professores, no convívio que teve lugar no átrio do IPM, fiquei a saber quais as obras da literatura portuguesa que mais apreciam e até os temas das dissertações que estão a preparar, abrangendo estudos que vão de Camilo Pessanha a Lobo Antunes e das relações sino-brasileiras à linguística aplicada. E todos acham que valeu a pena terem optado por esta área de estudos porque – foi, sem hesitação, que o disseram – “a língua portuguesa é uma língua com futuro”.
Depois de uma multiplicidade de compromissos, de natureza cultural e académica, ao longo de mais duas semanas frenéticas, foi bem gratificante este salutar convívio com estudantes e testemunhar, de forma interventiva, o seu admirável esforço de aprendizagem e o enorme interesse que dedicam ao estudo duma língua que passou a ser o seu novo instrumento de comunicação e de continuada valorização cultural, bem como da sua futura afirmação profissional.
Jorge A. H. Rangel, Presidente do Instituto Internacional de Macau.