Díli, 20 out 2025 (Lusa) – O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste Zacarias da Costa defende, em entrevista à Lusa, que Timor-Leste vai contribuir para uma Associação das Nações do Sudeste Asiático muito mais aberta e democrática.
“Creio que Timor poderá, com a sua entrada na ASEAN, contribuir para que seja um espaço regional muito mais aberto, muito mais democrático. Naturalmente, pouco mudou, pouco se alterou, continuamos com regimes políticos diferentes com democracias, com monarquias, e situações que nós sabemos”, diz Zacarias da Costa.
“Importa acreditar que todos temos o objetivo de contribuir para que esta nossa comunidade seja um verdadeiro espaço de liberdade, de democracia, de respeito pelos direitos humanos, Timor poderá trazer essa contribuição muito importante para a ASEAN”, sublinhou o também ex-secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Timor-Leste vai tornar-se no próximo dia 26, durante a cimeira de chefes de Estado e de Governo da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), que se vai realizar em Kuala Lumpur, na Malásia, o 11.º estado-membro daquela organização, 14 anos depois de ter formalizado o pedido de admissão.
Zacarias da Costa foi quem formalizou o pedido de adesão de Timor-Leste à ASEAN, em março de 2011, quando chefiava a diplomacia timorense.
Questionado pela Lusa sobre as razões de terem sido necessários 14 anos para concluir a adesão, o antigo ministro afirmou que é “normal num processo tão complexo e difícil”.
“Tivemos muitos desafios, as crises políticas que aconteceram em Timor, a covid e outros esforços que eram necessários para ajustar, harmonizar internamente as leis e prepararmo-nos”, afirma Zacarias da Costa, felicitando os esforços feitos pelo Governo.
“Fizeram um trabalho louvável, meritório”, diz.
O antigo ministro timorense recorda também que não foi fácil convencer os Estados-membros da ASEAN a aceitarem a adesão de Timor-Leste, lembrando que o Presidente da Indonésia na altura, Susilo Bambang Yudhoyono, era um grande apoiante.
“Recordo que Singapura manifestou-se sempre contra a entrada de Timor, mas os tempos foram mudando, as políticas também, as pessoas também e felizmente no dia 26 de outubro veremos este sonho concretizado”, refere.
Zacarias da Costa recorda que na altura Singapura defendia uma “posição de princípio”, que vinha de Lee Kuan Yew (primeiro-ministro de Singapura entre 1950 e 1990) e que considerava Timor-Leste como parte do Pacífico e não do Sudeste Asiático.
“Eu creio que esta posição não se alterou com os primeiros-ministros que lhe sucederam e foi difícil no Ministério dos Negócios Estrangeiros de Singapura mudar esta linha de orientação. Ultimamente houve um trabalho que foi feito a nível diplomático, não só dentro da ASEAN pelo Governo timorense, mas também fora, pela Austrália e por todos os países que apoiaram a integração de Timor neste espaço regional”, explica.
Sobre os aspetos positivos e os impactos negativos da adesão à ASEAN, Zacarias da Costa salienta que Timor-Leste vai integrar um “espaço regional dinâmico” e em “franco crescimento”, que poderá trazer mais desenvolvimento económico para o país, apesar de ainda não estar preparado.
“Agora impactos negativos eu diria como é que é possível depois compatibilizar os interesses nacionais, com os interesses dos outros Estados-membros, e como é que podemos rapidamente apanhar o comboio já em andamento, olhando para aquilo que é a nossa legislação, que temos de adequar, as expetativas que nós temos e que a própria ASEAN tem de Timor-Leste e podermos, dentro deste equilíbrio e o mais depressa possível, ajustar-nos a uma forma de ser e estar diferente”, questiona o ex-secretário executivo da CPLP.
Para Zacarias da Costa, o maior desafio para Timor-Leste é mostrar que as coisas funcionam.
“Isso é que é o mais importante. Muitas vezes temos uma grande expetativa, mas depois não conseguimos corresponder. Não podemos continuar a andar neste ritmo, continuar a ter escândalos e escândalos, temos de mostrar uma outra eficiência de Timor-Leste e que estamos prontos para competir com esse mercado mais vasto que é a ASEAN”, conclui.
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