Ilha de Goreia ou Ilha de Gorée, a 3km de Dacar, Senegal.
Bissau, 18 mar 2025 (Lusa) – O sociólogo e antigo ministro da Educação guineense Dautarim da Costa disse hoje à Lusa que receia que o Senegal venha a ter mais falantes do português que a Guiné-Bissau devido às deficiências do sistema educativo do país.
Quando assim acontecer, diz Dautarim da Costa, a Guiné-Bissau poderá “perder a própria soberania” por falta de quadros qualificados.
“Aqui ao lado, no nosso país vizinho, Senegal, temos milhares de falantes do português que estudaram o português, que sabem escrever português, e que têm qualificações escolares, em princípio, mais consistentes do que aquelas que nós produzimos”, enfatizou o investigador.
Dautarim da Costa falava à Lusa à margem da apresentação de um relatório elaborado pelo Banco Mundial sobre a análise do capital humano na Guiné-Bissau, através de indicadores e políticas públicas nos setores da saúde, educação e proteção social.
O documento refere que existem lacunas nos três setores e técnicos de diferentes ministérios do Governo guineense reconheceram ser necessário reforçar as políticas públicas nos mesmos.
Para Dautarim da Costa, que foi um dos animadores da sessão da apresentação do relatório, “mais do que tudo”, a Guiné-Bissau deve olhar para a formação de quadros como “prioridade número um”.
O sistema educativo, que o investigador diz não existir atualmente, deve ser repensado, sobretudo a forma como o português é ensinado, sob pena de o país perder a sua soberania, afirma.
“Quer dizer que se nós não pensarmos bem, brevemente teremos falta de capacidade de competir no nosso próprio país por postos de trabalho. Isso é um assunto sério”, considerou Dautarim da Costa.
O também professor universitário defende que a produção de qualificações “é uma questão da soberania”, porque, diz, “remete para a sobrevivência do país”.
Como antigo ministro da Educação e na presença do atual titular da pasta entre os presentes na sessão, Dautarim da Costa afirma que a Guiné-Bissau ainda não possui uma capacidade endógena de produzir os seus quadros.
O sociólogo apresentou dados que, disse, demonstram a realidade do sistema educativo do país, destacando que a esperança média de escolarização do cidadão guineense é pouca e que quase 50% da população é analfabeta.
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