Fazer uma moção para a segunda conferência da organização das mulheres de Cabo Verde (OMCV) a decorrer nesta capital Praia seria tarefa fácil. Bastar-nos-ia adaptar as palavras recentemente proferidas pelo Presidente da República Aristides Pereira e desejar que a OM seja também um instrumento activo na formação de mulheres “inconformistas, confiantes no futuro e preocupadas permanentemente com a busca de solução para os problemas da sociedade. Mulheres que negam a rotina, a superficialidade, a mediocridade e a mentalidade servil”.
Dizer isto é o mesmo que afirmar que a OMCV deverá ousar contribuir para a formação de mulheres conscientes dos seus direitos e deveres, do seu papel na sociedade, competentes, responsáveis e dispostas a lutarem para sua realização pessoal e profissional, que vivam a vida nas suas alegrias e tristezas, sucessos e fracassos. Mulheres que tenham um sentido gregário da existência e se preocupem com o que se passa ao seu lado, na sua comunidade, no seu país. Para poderem dizer sim, com conhecimento e objectividade, e dizer não quando for de dizer não. Para poder sugerir, dar opinião, fazer e participar. Na certeza de que a terra é de todos e ela só será aquilo que todos fizermos dela. E que ninguém deve renunciar, alienar ou desistir da sua voz neste projecto nacional de construção do país, pois só com a contribuição de todos o país será viável !
Esse é um dos papéis a ser assumido pela OMCV: depois de agitar a sociedade cabo-verdiana com as ideias da emancipação da mulher, a organização deve ajudar a criar condições para que essa mesma mulher possa, conscientemente, participar e se torne cada vez mais apta e capaz. Na verdade, é isso que auguramos a segunda conferência da OMCV.
Permito-me, contudo, em jeito de saudação a todas as mulheres de Cabo Verde, traduzir livremente as palavras de Eldrige Cleaver no livro “Un noir à l’ombre” dedicadas “a mulher africana no dia do reencontro”, sem dúvida das mais belas que já ouvimos dedicadas à mulher:
“Rainha Mãe. Mulher d’Africa
Irmã da minha alma
Esposa da minha paixão
Meu eterno amor”
“Eu te saúdo com a minha voz, a voz do homem negro. E ainda que te saúde agora, a minha saudação não é nova, mas tão antiga como o sol, a lua e as estrelas. E a minha saudação não testemunho de recomeço, significa tão somente o meu regresso. Para além do abismo desvendado da nossa dignidade, encontramo-nos hoje em face um do outro. O passado minha irmã é um espelho omnisciente. Nós observamo-lo para nele encontrar cada um o seu reflexo e o reflexo do outro. O que nós fomos, o que somos hoje, os caminhos que seguimos e os que estamos a fim de seguir”.
Esta é a saudação que também quero fazer, acho que para todos nós homens e mulheres: juntos vamos olhar o passado, apreciar o caminho percorrido e recobrar forças para prosseguir na senda da dignidade conquistada…
Revista Mujer, março de 1985.
Foto:
Vera Duarte
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