Morreu o escritor brasileiro Antonio Candido, Prémio Camões 1998

São Paulo, 12 maio (Lusa) – O escritor e crítico literário brasileiro Antônio Cândido, Prémio Camões 1998, morreu na madrugada de hoje, aos 98 anos, anunciou a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, no Brasil.

De acordo com a mesma fonte, o velório do escritor, considerado um dos mais influentes críticos literários do Brasil no século XX, será realizado hoje, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde se encontrava internado.

O autor conquistou por quatro vezes o Jabuti, principal prémio literário do Brasil, com as obras “Formação da literatura brasileira” (1960), “Os parceiros do Rio Bonito” (1965), de poesia, e “Brigada ligeira e outros escritos” (1993), com ensaios.

Nascido 24 de julho de 1918, no Rio de Janeiro, Antônio Cândido de Mello e Souza era filho do médico Aristides Cândido de Mello e Souza e de Clarisse Tolentino de Mello e Souza, descendentes de uma tradicional família do interior de Minas Gerais.

Dos 10 aos 12 anos, viveu em França, e passou depois um verão em Berlim, onde assistiu, ainda adolescente, à ascensão do regime nazi, como recorda o jornal brasileiro O Globo, na sua edição ‘online’.

Entrou, em 1939, nos cursos de Direito e Ciências Sociais da Universidade de São Paulo (USP), estreando-se, em 1940, na imprensa, no exercício da crítica literária, na revista Clima.

A linguagem fluente e a visão aguda do escritor, de acordo com o jornal brasileiro, fizeram com que três anos depois fosse contratado para assinar críticas “de rodapé” na Folha da Manhã – atual jornal Folha de S. Paulo – e, em seguida, no Diário de S. Paulo.

Foi um intelectual que transitou entre dois universos: o da clareza exigida no quotidiano jornalístico e o da profundidade académica, tendo consolidado a sua obra, sobretudo no clássico “A formação da literatura brasileira”, de 1957, conceitos fundamentais para o entendimento, não apenas da literatura brasileira, como para aprofundar as interpretações sobre a cultura do Brasil.

Em 1945, publicou o seu primeiro livro, “Brigada ligeira”, no qual reúne artigos da coluna semanal Notas de Crítica Literária, da Folha da Manhã, que retratam a literatura brasileira daquela década, com, entre outros, um ensaio sobre Oswald de Andrade e artigos sobre autores então desconhecidos, a quem saudou a estreia, como Clarice Lispector, com “Perto do coração selvagem”, e o poeta João Cabral de Mello Neto.

Trabalhou como professor assistente de Sociologia na Universidade de São Paulo (USP), e foi diretor da Associação Brasileira de Escritores, fundada em 1942, que arregimentou intelectuais contra a ditadura e, em 1945, realizou o 1.º Congresso Brasileiro de Escritores, em São Paulo, marcando oposição ao autoritarismo então vigente.

A passagem para a área de Letras só viria a acontecer em 1958, quando se tornou professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Assis, atualmente parte da Universidade Estadual Paulista, no interior do Estado de São Paulo, quando já tinha publicado a sua obra máxima, “Formação da literatura brasileira”.

Quando da atribuição do Prémio Camões, em 1998, foi publicada em Portugal a coletânea “O Direito à Literatura e outros ensaios”, que reúne sobretudo ensaios dedicados a escritores brasileiros, como Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Graciliano Ramos, assim como Clarice Lispector e Carlos Drummond de Andrade, e uma interpretação do sentido da evolução das Letras Brasileiras no século XX.

AG // MAG – Lusa/Fim
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