Lu-Olo, o homem que “proclamou” a restauração e agora sobe à Presidência timorense

Francisco Guterres Lu'Olo 20 de março de 2017.  EPA/ANTONIO DASIPARU /LUSA
Francisco Guterres Lu’Olo 20 de março de 2017. EPA/ANTONIO DASIPARU /LUSA

Díli, 21 mar (Lusa) – Francisco Guterres Lu-Olo vai tomar posse no próximo dia 20 de maio como Presidente de República timorense, exatamente 17 anos depois de ele próprio ter “proclamado” a restauração da República Democrática de Timor-Leste.

Então presidente do Parlamento Nacional coube a Lu-Olo teve a honra de declarar o nascimento da primeira Nação do novo milénio, presidiu à subida pela primeira vez, a 20 de maio de 2002, da bandeira do novo Estado e momentos depois, deu posse ao primeiro chefe de Estado da restauração, Xanana Gusmão.

Na sua vida, esse foi, porventura, o fim do maior capítulo da vida de Lu-Olo, que nasceu a 07 de setembro de 1954 em Ossú, zona remota de Timor-Leste, no subdistrito de Viqueque, a sudeste de Díli.

Para um homem que passou grande parte da vida a combater soldados indonésios nas montanhas de Timor-Leste – fugiu para o mato pouco depois da invasão indonésia em 1975 e só entregou as armas em 2000 – esta semana parece ter-se fechado um ciclo.

Primeiro porque à terceira vez conseguiu finalmente ser eleito para a Presidência – perdeu na primeira volta em 2007 e 2012 – mas também porque com a sua tomada de posse é o terceiro líder da Fretilin (Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente) a assumir o cargo.

Francisco Xavier do Amaral e Nicolau Lobato foram os primeiros presidentes depois da proclamação unilateral da independência, a 07 de dezembro de 1975, com o cargo a ficar vazio até que Lu-Olo deu posse a Xanana Gusmão, em 2002.

Presidente da Assembleia Constituinte entre 15 de setembro de 2001 e 20 de maio de 2002 – quando passa a presidente do Parlamento Nacional – Lu-Olo conclui em 2011 o curso de Direito na Universidade Nacional de Timor Lorosa’e, que começou ainda quando liderava o parlamento.

Quando deixa o cargo de presidente do Parlamento, em junho de 2007, Lu-Olo fica alguns anos afastado de cargos públicos, dedicando-se mais ao partido, até fevereiro de 2014 quando é nomeado presidente da Comissão Preparatória da Cimeira dos Chefes de Estados e Governo da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa.

Lu-Olo começou os seus estudos no Colégio Sta. Teresinha de Ossú onde completou a 4.ª classe em 1969, tendo sido aluno dos Salesianos, durante esta mesma instrução primária, sem ainda nenhuma expectativa do seu futuro.

É nesse ano que viaja para a capital, ingressando no Liceu de Díli que frequentou até 1973, regressando depois para o Colégio St. Teresinha como monitor escolar, funções que ocupa até 1974 quando a vontade de continuar os estudos o trazem de volta à capital.

Em 1975 aderiu à Fretilin, tornando-se simpatizante deste partido político por ter gostado, diz, do seu programa político, onde se defendia a independência de Timor-Leste e mudanças na vida sociopolítica e económica da população, através de reformas estruturais à herança do sistema colonial português.

Quando se deu a invasão indonésia de Timor-Leste, a 07 dezembro de 1975, Lu-Olo foge para o mato com a população da sua zona, em especial com a juventude de quem desfrutava confiança e amizades profundas.

Une-se ao pelotão comandado por Lino Olkasa e inicia assim a sua vida como combatente pela Fretilin.

Em junho de 1976 é nomeado vice-secretário de Ossú, depois passa a secretário, substituindo outro conterrâneo capturado pelo inimigo durante uma incursão militar.

Após uma primeira reunião do Comité Central da Fretilin (CCF), foi destacado como vice-secretário da Região Leste, ficando mais próximo de Xanana Gusmão.

Um ano depois é nomeado vice-secretário do partido, e em 1978 delegado do Comissariado do Setor na Ponta Leste, entre muitos outros cargos dos quadros médios da Fretilin.

Em 1982 é nomeado adjunto e colocado na Região Centro Leste, onde integra o Comando da 3.ª Companhia da guerrilha, sendo ainda responsável político, um cargo para que é nomeado formalmente em 1984.

Foi em 1987, já com esta dupla função executiva, que Lu-Olo é transferido para a Região Cruzeiro (Same, Manatuto Oeste, Aileu e parte oriental de Díli).

Em 1997 assume a função de secretário da Comissão Diretiva da Fretilin, após a morte por acidente de Konis Santana, assim preenchendo o vazio político da Fretilin na resistência armada.

Como a criação do Conselho Nacional da Resistência Timorense (CNRT), em 1998, Lu-Olo acumula os cargos de membro da Comissão Política Nacional do Conselho, de secretário da Frente Política Interna, membro do Conselho Político Militar na resistência armada com as funções que ocupava no Conselho Presidencial da Fretilin.

O fim da guerra, depois de um quarto de século, permite que Lu-Olo desça das montanhas com as Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (Falintil) para a vila de Aileu, a sul de Díli.

A 26 de novembro de 2000 entrega a sua arma AR-15 e as munições ao Comando das Falintil, desce para Díli onde incentiva a criação da Conferência Nacional da Fretilin, e depois a reorganização das estruturas de base do partido a pensar no Congresso de julho de 2001 em que é eleito presidente.

Após as eleições de 30 de agosto de 2001, que culminou com a vitória da Fretilin, Lu-olo toma posse como membro da Assembleia Constituinte de Timor-Leste sendo eleito presidente do órgão.

A 20 de maio passa a ser o 6.º presidente timorense desde a proclamação e o 4.º desde a restauração da independência.

ASP // EL – Lusa/Fim

 

Subscreva as nossas informações
Scroll to Top