Lisboa, 26 out 2025 (Lusa) – A direção da Câmara de Comércio e Indústria Portugal Angola (CCIPA) considerou hoje que a legislação angolana nunca deu condições melhoradas às empresas portuguesas para investirem no país, defendendo que o que existe é uma vantagem cultural.
“Nunca houve um tratamento preferencial para empresas portuguesas, sempre estivemos em pé de igualdade com as empresas dos outros países que lá estão”, disse a diretora executiva da CCIPA, Isabel Santos, em entrevista à Lusa a propósito dos 50 anos da independência de Angola, que se assinala em 11 de novembro.
A diretora executiva da CCIPA acrescenta, ainda assim, que “o que existe é uma vantagem cultural, que passa não só por todos os produtos portugueses estarem expostos nos supermercados angolanos há décadas, mas também pela cultura semelhante, que faz com que as empresas estrangeiras contratem muitas vezes líderes portugueses para gerir as suas sucursais em Angola”.
Nos últimos 50 anos, a relação dos empresários portugueses com Angola foi mudando, acompanhando não só a evolução de Angola, mas também de Portugal, nomeadamente na área económica, explicou o presidente da CCIPA, João Traça.
Em entrevista à Lusa, os dois responsáveis salientam que a relação quase informal, de confiança, que se estabeleceu entre os empresários e exportadores portugueses para Angola e os angolanos, mudou desde que Angola recuperou a paz, no final dos anos 1990.
“No princípio dos anos 2000 o mercado ganha novos setores de atividade, é o tempo dos generais nos negócios, há uma relação mais pragmática e menos afetiva”, lembra o advogado que ocupa a presidência da CCIPA desde 2017.
Num país marcado por deficiências graves em quase todos os setores de atividade, a seguir à independência, a construção civil e as obras públicas ocupavam grande destaque devido à falta de infraestruturas, mas o passar dos anos e a evolução da própria economia de Angola foram abrindo novos negócios.
“A partir do ano 2000, mais ou menos, surge uma nova classe de empresários, mais nova, mais descomprometida com o passado colonial, em que é a carteira que vai à frente, já não é o coração e as memórias”, acrescenta Isabel Santos, sublinhando que a crise em Portugal, no final da primeira década deste milénio, ajuda à expansão internacional.
“Entre 2008 e 2010, com a crise económica, os empresários portugueses ‘mandam-se’ para Angola, não pela emoção, mas porque era o único destino possível” no contexto económico da crise das dívidas soberanas na Europa, lembra João Traça.
Só que nem sempre os períodos de expansão económica em Portugal coincidem com a capacidade de Angola acolher mais obras, mais negócios, mais empresas e mais mercado.
“Em 2014, Portugal melhora a seguir à ‘troika’, mas Angola enfrenta, dois anos depois, a crise dos preços baixos do petróleo; não há divisas, não há projetos, não há mercado, não há pagamentos às empresas portuguesas, mas as empresas portuguesas também inflacionavam os preços, não houve lisura de ambas as partes”, admite Isabel Santos.
Angola é obrigada a recorrer ao Fundo Monetário Internacional em 2016, e depois novamente em 2021, o que, juntamente com a pandemia de covid-19 e um novo Governo, trouxe um novo paradigma na gestão das finanças públicas, que se refletiu também no perfil das empresas portuguesas presentes em Angola.
“As construtoras que sempre lá estiveram continuam, mas os empresários alargaram a sua atividade para vendas e reparações de automóveis, supermercados, lojas… Mas não há um único investimento recente de grande dimensão em Angola, não há uma empresa que queira contratar 300 trabalhadores de uma só vez, por isso o que caracteriza o investimento em Angola nos últimos anos é, na verdade, o desinvestimento, há mais empresas a tirar de lá o investimento do que a investirem”, conclui o presidente da CCIPA.
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