As relações comerciais entre o Brasil e a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) podem ajudar o país a combater a desaceleração de sua economia, segundo o especialista em Relações Internacionais Thiago Costa Dias.
“Vislumbro um sistema comercial mais inclusivo, com uma facilitação do comércio e esforços para tornar os procedimentos aduaneiros mais evoluídos, eficazes e harmonizados. A interação entre os países aumenta, e eles começam a se ver como mercados consumidores”, afirmou à Lusa.
Costa Dias realçou que o Brasil também começou a envolver as empresas locais a considerarem os outros membros da CPLP como possíveis consumidores.
Os setores que mais atraem as empresas brasileiras para a África Lusófona são o setor de óleos minerais, infraestrutura e logística (como construção de portos e rodovias), serviços de engenharia, agronegócio, produtos químicos e açúcares.
No entanto, afirmou, é importante que os países sigam as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) para conquistarem a confiança dos empresários e atraírem investimentos externos diretos.
“A facilidade da língua é importante para as empresas, principalmente para as pequenas e médias”, disse.
Para Thiago Dias, mestre em relações internacionais, que atualmente atua junto à ONG Lions Clubs International, o Brasil “errou” ao não enviar a presidente Dilma Rousseff à posse do moçambicano Filipe Nyusi, de Moçambique, nesta quinta-feira.
“A CPLP é vista mais como integracionista e assistencialista, mas não com a importância comercial que é dada à China ou ao grupo dos Brics [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul]”, disse.
A presença do Brasil na CPLP (ao lado de Portugal, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Guiné-Bissau e Guiné-Equatorial) também ajuda a credenciar o país como um ator global, e possibilita o apoio mútuo em votações de órgãos internacionais, como a escolha do brasileiro Roberto Azevedo como diretor-geral da OMC.
O especialista acrescentou que a cooperação educacional e técnica e a transferência de programas sociais de combate à fome formam outro ponto importante das relações do Brasil com a África lusófona e que contribuem para a estratégia internacional de relações Sul-Sul feita pelo país sul-americano.
As principais empresas brasileiras que atuam hoje na África são as construtoras e empreiteiras, como Mendes Junior, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Odebrecht, todas elas citadas na ação judicial que investiga a suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro na petrolífera brasileira Petrobras.
“Já que o Brasil não está a dar a devida importância ao caso, pode gerar algum pedido de esclarecimento no âmbito diplomático”, afirmou.
FYB // PJA – Lusa/Fim
Fotos:
– Palácio da Alvorada em Brasília, Brasil, 10 de agosto de 2014. EPA/Fernando Bizerra Jr.
– Os chefes de estado e de governo dos estados membros da Comunidade dos Paises de Lingua Portuguesa, (E-D) o Presidente de Mocambique, Joaquim Chissano, de Cabo Verde, Mascarenhas Monteiro, de Angola, Jose Eduardo dos Santos, de Portugal, Jorge Sampaio, o Primeiro Ministro portugues, Antonio Guterres, do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, da Guime-Bissau, Joao Bernardo Nino Vieira e o representante de Sao Tome e Principe, durante a Cimeira Constitutiva da CPLP, que decorreu no Centro Cultural de Belem a 17 de Julho de 1996. INACIO ROSA / LUSA