A linguista portuguesa Teresa Lino está a desenvolver uma base de dados de termos do quotidiano e científicos de países de língua portuguesa, que será disponibilizada gratuitamente na Internet, disse hoje à Lusa a própria investigadora.
Segundo Teresa Lino, “a ideia é criar recursos de neologia da língua corrente de todos os dias, mas também neologia e terminologias científicas e técnicas não só de Portugal, mas também com as variantes da língua portuguesa dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa)”.
Utilizando um programa informático apropriado para o tratamento de textos, a equipa liderada pela investigadora da Universidade Nova de Lisboa faz a recolha, tratamento de termos usados em diferentes contextos científicos, o que, no final, possibilitará que profissionais do ramo percebam em que contextos são aplicados.
“Mesmo na área da medicina, há plantas medicinais, a medicina tradicional e inclusivamente existem termos médicos associados a doenças, patologias, mais características de determinadas zonas africanas, que não existem necessariamente aqui na Europa”, exemplificou.
Em declarações à Lusa, Teresa Lino anunciou que, em abril do próximo ano, Moçambique vai organizar um colóquio sobre neologia da língua portuguesa em Moçambique e a terminologia usada especificamente em Moçambique, evento organizado por uma linguista moçambicana que integra o projeto.
“Existe necessidade de levantamento de terminologias associadas, por exemplo, às pescas, à oceanografia, agricultura, que são realidades muito diferentes das da portuguesa”, afirmou Teresa Lino.
O projeto, que está a ser desenvolvido por centros de pesquisa de linguística de universidades da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, está em vários estádios e não existe uma data para terminar.
“O Brasil está mais avançado na área da neologia da língua corrente, mas na neologia científica também não está muito”, enquanto em Angola “há mais trabalho na área de medicina” e estão a ser dados os primeiros passos na área de neologia da língua corrente, comparou a pesquisadora.
“Temos que esperar mais um ou dois anos para que tenhamos mais trabalho produzido nesta área, mas há forte sensibilidade para a recolha da neologia que vai surgindo. A língua também está a evoluir rapidamente em contacto também com as línguas nacionais, portanto, há uma forte necessidade de registo de neologismos que vão aparecendo”, acrescentou.
Mas a ideia não é uniformizar nem os neologismos, nem a terminologia científica, avisou a docente de linguística, justificando que “nem sempre a uniformização é boa”.
“Os termos de medicina não são os mesmos de país para país. Às vezes, o conceito não é exatamente o mesmo e é entendido de maneiras diferentes em Cabo Verde, Angola, Moçambique, tal é o caso concreto de termos médicos na área da medicina tropical, da malária, tuberculose”, sublinhou.
Contudo, frisou, “é importante ter (a base de dados) disponível para o grande público”.
“Existem muitos termos que não estão suficientemente levantados, nem conhecidos, nem sistematizados em glossários, ou dicionários ou em bases de dados que possam disponibilizar na internet, portanto, há realmente muito trabalho a fazer em todos os países de língua portuguesa”, referiu.
MMT // VM – Lusa/Fim
Foto: Alunos da Escola Secundária Josina Machel num planetário móvel trazido ao país pelo Centro Ciência Viva de Sintra , em Maputo, Moçambique, 28 de novembro de 2012. ANTONIO SILVA / LUSA