Rabat, Marrocos, 04 jun 2024 (Lusa) – A investigadora marroquina Hajar Lmortaji enalteceu à agência Lusa, em Rabat, em Marrocos, o contributo da obra de Camões para a consciência intercultural nos dois países, 500 anos após o nascimento do poeta português.
“A sua escrita permanece atual como ferramenta de formação cidadã e intercultural”, disse à Lusa esta professora universitária, no âmbito da sua participação num programa comemorativo dos cinco séculos de Luís Vaz de Camões, que termina hoje em El Jadida, a antiga cidade de Mazagão, dominada pelos portugueses até 1769.
Numa comunicação perante dezenas de estudantes da Universidade de Rabat, Hajar Lmortaji já tinha destacado “o papel pioneiro de Camões no pensamento crítico intercultural” na Europa do século XVI.
“Nota-se uma mudança na escrita após a sua longa experiência no Oriente”, quando passa “a criticar o império e a decadência”, além de “assumir uma atitude intercultural e falar das outras culturas de uma outra maneira”, disse hoje a investigadora à Lusa.
Hajar Lmortaji, que é também artista plástica empenhada no estreitamento de laços culturais entre Rabat e Lisboa, dissertou na terça-feira sobre “O aspeto pedagógico na escrita de Camões antes e depois da viagem dos Descobrimentos: um reflexo de pensamento crítico e de interculturalidade”.
Na esteira de outros autores, enfatizou que o criador da obra épica “Os Lusíadas” evoluiu de “um poeta moralizante para um poeta pedagogo intercultural’, na sequência das viagens ao Norte de África (onde, segundo a lenda, perdeu o olho esquerdo, em Ceuta) e depois Ilha de Moçambique, Índia e Macau.
As vivências nessas paragens, contactando povos com diferentes culturas, costumes e religiões, “despertaram uma consciência crítica e ética” no poeta-soldado.
“A experiência de viagem transformou a sua visão do mundo”, declarou Hajar Lmortaji, ao salientar que “Os Lusíadas” constituem “uma obra pedagógica que ensina pela narração, exorta e questiona”.
Hajar Lmortaji concebeu a exposição “Horizontes cruzados – Diálogo artístico entre Rabat e Lisboa”, que ainda pode ser visitada na Galeria Nacional Bab Rouah, na capital do país africano.
Por sua vez, Cristina Robalo Cordeiro, da comitiva portuguesa, salientou que Marrocos “foi uma etapa fundamental para a expansão portuguesa e os vestígios patrimoniais que se estendem, fundamentalmente na costa atlântica, com as suas antigas praças-fortes, dão conta da riqueza” de um passado comum.
“O laço tão evidente e forte entre os nossos dois países, onde Camões encontra o seu lugar, levaram-nos a Rabat, cuja Universidade Mohamed V, através do Departamento de Estudos Portugueses, acolheram a nossa iniciativa, e a El Jadida, para conjuntamente com a Universidade Chouaïb Doukkali estabelecermos mais uma ponte cultural, literária e humana”, declarou a antiga vice-reitora da Universidade de Coimbra.
Após a conferência “De Mazagão a El Jadida. Duzentos anos de amizade luso-marroquina”, pelo historiador Jilali Dref, o programa encerra hoje com uma visita guiada à cidade histórica portuguesa de Mazagão, assinalando os 50 anos da sua classificação como Património Mundial da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
Esta comemoração dos 500 anos do nascimento de Camões, com apoio de entidades públicas e privadas dos dois países, foi organizada pelas escritoras Cristina Robalo Cordeiro e Ana Filomena Amaral, como extensão do Festival Literário Internacional do Interior (FLII) – Palavras de Fogo, que vai decorrer no Centro de Portugal entre os próximos dias 14 e 17.
CSS // MAG – Lusa/Fim

