Barão de Itararé e Manuel Bandeira, 1966. Arquivo Nacional.
O primeiro nobre do humor no Brasil. Debochava de tudo e de todos e costumava dizer que, “quando pobre come frango, um dos dois está doente”. Ele é um dos inventores do contra-politicamente correto.
Há muito que o gaúcho Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé (1895-1971) merecia uma biografia mais detida. Em 2003, o filósofo Leandro Konder lançou “Barão de Itararé — O Humorista da Democracia” (Brasiliense, 72 páginas). O texto de Konder é muito bom, mas, como é uma biografia reduzida, não dá conta inteiramente do personagem, uma espécie de Karl Kraus menos filosófico mas igualmente cáustico. Quatro anos depois, o jornalista Mouzar Benedito lançou o opúsculo “Barão de Itararé — Herói de Três Séculos (Expressão Popular, 104 páginas). É ótimo, como o livrinho de Konder, mas lacunar. No final, há uma coletânea das melhores máximas do humorista, que dizia:
- O uísque é uma cachaça metida a besta.
- O que se leva desta vida é a vida que a gente leva.
- A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.
- Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.
- Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.
- A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.
- Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.
- Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.
- Mantenha a cabeça fria, se quiser ideias frescas.
- O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.
- Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.
- Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.
- De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
- Quem empresta, adeus.
- Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.
- O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
- Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.
- A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
- Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
- Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.
- O fígado faz muito mal à bebida.
- O casamento é uma tragédia em dois actos: um civil e um religioso.
- A alma humana, como os bolsos da batina de padre, tem mistérios insondáveis.
- Eu Cavo, Tu Cavas, Ele Cava, Nós Cavamos, Vós Cavais, Eles Cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo…
- Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.
- Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra!
- Devo tanto que, se eu chamar alguém de “meu bem”, o banco toma!
- Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta…
- Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.
- As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes, isto é, se cura, cobra, e se mata, cobra.
- O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
- Em todas as famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho único.
- Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados.
- Quem não muda de caminho é trem.
- A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.