Lisboa, 05 mai (Lusa) – Um investigador português considerou hoje à agência Lusa que a candidatura a secretária-executiva da CPLP da atual governadora do Banco Central de São Tomé e Príncipe “reúne, à partida e em teoria, condições” para efetuar um trabalho “positivo”.
Em declarações à Lusa, Paulo Gorjão, também presidente do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS), lembrou o percurso de Maria do Carmo Silveira, igualmente antiga primeira-ministra são-tomense (2005/06), o que “dá garantias” de “experiência política e profissional ao mais alto nível”.
“Mas será o suficiente para a qualificar para a exigente posição de secretária-executiva da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)?”, questionou Paulo Gorjão, lembrando, por entre críticas fortes ao atual detentor do cargo, o diplomata moçambicano Murade Murargy, que o passado e o futuro “prometem não lhe facilitar a vida”.
O investigador português sustentou que o “legado desastroso” do “consulado” de Murargy (julho de 2012/julho de 2016) deixará a Maria do Carmo Silveira “feridas e divisões” de que não há memória nos mandatos que antecederam o do diplomata moçambicano e para os quais o próprio secretário-executivo da CPLP, “por ação ou omissão, muito contribuiu”.
“Em 20 anos de história da CPLP, o que se constata é que os momentos mais tensos e de maior risco de crise política ocorreram todos durante os quatro anos do turno do atual secretário-executivo. Não deixa de ser irónico que, sendo Murargy um diplomata, por vezes, a sua conduta se tenha assemelhado mais à de um pirómano”, escreveu Paulo Gorjão num artigo de opinião na página do IPRIS.
Questionado pela Lusa sobre que razões o levam a considerar Murargy um “pirómano”, Paulo Gorjão sustentou com a “inabilidade política”, bem como com a tomada de posições públicas “desnecessárias e incendiárias”, o que revelam uma “necessidade de protagonismo”.
“O que fez na CPLP em defesa da Língua Portuguesa e nos Direitos Humanos? Foi muito brando e compreensível (Angola e Guiné Equatorial). Assumiu claramente posições de apoio a uns países quando se aconselhava maior discrição”, exemplificou.
Ao longo de quatro anos, acrescentou, Murargy “não conseguiu recolocar a Guiné-Bissau na Lusofonia – não foi suficientemente proativo” -, e em Moçambique “não tem qualificação” para mediar um conflito político-militar entre a Frelimo e a Renamo.
“Maria do Carmo Silveira vai, assim, encontrar um pouco por todo o espaço da Lusofonia focos de potencial tensão política – a sucessão de José Eduardo dos Santos em Angola, a situação na Guiné-Bissau, a integração por fazer da Guiné Equatorial na CPLP, o contexto conturbado em Moçambique, e a crise política no Brasil, entre outros”, especificou.
Outra “batata quente” de Maria do Carmo Silveira, é a execução da agenda contida na “Nova Visão Estratégica da CPLP”, a aprovar na Cimeira de Brasília (julho próximo), que, para ter êxito, terá de envolver todos os Estados membros no projeto.
“Caso contrário, será um nado-morto inevitável”, concluiu Paulo Gorjão, lembrando que Maria do Carmo Silveira “herda um pesado legado” e terá pela frente “desafios muito difíceis que a limitam”.
“Mas a forma como fará a gestão da sua envolvente é da sua única e exclusiva responsabilidade. Será ver para crer”, referiu.
Maria do Carmo Trovoada Pires de Carvalho Silveira, prima direita do atual primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, é governadora do Banco Central de São Tomé e Príncipe desde 2011, tendo já sido também primeira-ministra e ministra das Finanças.
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