Berlim, 29 jun 2024 (Lusa) – A “Livraria”, a única que vende maioritariamente livros escritos em língua portuguesa, corre o risco de fechar depois do valor da renda ter quase triplicado nos últimos 18 anos.
Edney Meirelles, coproprietário da “Livraria”, foi vendo todos os colegas lojistas da sua rua serem forçados a sair. Acredita que, agora, são os mais antigos da Torstrasse, mas o preço da renda fá-los contar os dias.
“Primeiro pela especulação imobiliária, os alugueres aumentaram bastante. O nosso triplicou. Tínhamos duas possibilidades, ou procurar outro lugar, que nós procurámos, mas os valores eram bem mais caros, ou ficar aqui e pagar (…) Tive de procurar outras oportunidades, não posso dar-me ao luxo de viver só dos livros, tenho de procurar um trabalho paralelo”, contou à agência Lusa.
A “Livraria” abriu as portas há 18 anos. Durante quatro anos vendeu exclusivamente livros em língua portuguesa, ou livros de escritores lusófonos traduzidos para alemão.
“Apesar de termos uma comunidade de 18 a 20 mil falantes de português em Berlim, isso não significa que todos sejam leitores. A Amazon é um dos principais problemas e não consigo perceber. Os preços que a plataforma pratica chegam a ser 100% mais caros do que os da Livraria (…) Isso contribuiu para que o nosso movimento caísse mais de 50% por cento”, revelou Edney Meirelles.
Aos livros em português juntaram-se os de italiano, e depois, para “tentar aumentar a clientela”, somaram-se as obras em espanhol e até “uma prateleirinha” dedicada ao inglês, depois de várias solicitações.
“Sempre que encontrávamos uma dificuldade, procurávamos uma alternativa”, comentou.
Em 2006, o aluguer era de 850 euros. Agora passou para quase 2.000 euros. Além dos trabalhos paralelos, os dois donos decidiram triplicar os eventos na “Livraria” para trazer mais clientes.
“Normalmente quando as pessoas nos visitam para um evento acabam por comprar um livro. É uma forma de tentar aumentar as vendas”, somando-se ainda uma campanha na plataforma online “gofundme”, acrescentou.
“Pegamos em 50% do valor e compramos livros na livraria que depois doamos para cinco bibliotecas em Berlim. Livros de autores portugueses, brasileiros, angolanos, moçambicanos, cabo-verdianos. É uma forma de estimular a leitura em português. Se tiverem procura, as bibliotecas vêm à Livraria comprar mais livros”, explicou o brasileiro Edney Meirelles.
A campanha tem tido boa aceitação com encomendas a chegar de diferentes pontos da Alemanha.
JYD // MLL – Lusa/Fim
Foto de destaque: Foto Fernando Molica