Nova direção quer UCCLA com menos mofo e mais jovens para evitar acabar em museu

Lisboa, 15 dez 2024 (Lusa) – O novo secretário-geral da UCCLA quer modernizar a instituição “sem preconceitos” e com os olhos nos jovens lusófonos, aprendendo e aplicando o seu mundo nas várias atividades para evitar que esta associação intermunicipal se transforme num museu.

Em entrevista à agência Lusa, a primeira desde que tomou posse como secretário-geral da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), em outubro, Luís Campos Ferreira disse que encontrou uma instituição com alicerces fortes, que é respeitada, credível e está estruturada.

A UCCLA “não precisa de reforçar alicerces, mas precisa de adaptar-se aos novos tempos e às novas gerações”, disse.

“Temos de conseguir que as novas gerações não percam as relações que as gerações mais velhas tinham, relações muitas vezes a preto e branco, de tensão, de afetos e desafetos, de encontros e desencontros; mas eram relações, existiam, estavam lá”, defendeu.

“Estamos a falar de novos ciclos. Não podemos ficar agarrados ao bem ou ao mal do passado, não é bom para ninguém: Ajustes de contas por um lado e saudosismos por outro (…) não chegam para alimentar as necessidades dos mais novos”, prosseguiu.

Sobre a forma como pretende concretizar este impulso junto das gerações mais novas, disse apostar na continuidade dos métodos tradicionais, que “não devem ser abandonados”, como “as ligações entre as universidades”, fomentando eventos musicais, desportivos, culturais “com que os mais novos se identifiquem”.

“Mas há um novo mundo. A língua é a mesma, mas há uma nova linguagem” e, nesse sentido, lembrou que os mais jovens têm uma linguagem estética, comportamental, de aprendizagem e de comunicação “diferente” e que “tem a ver com o mundo digital, com as novas realidades, a inteligência artificial, a própria evolução da maneira como os jovens veem a vida e as esperanças que eles têm”.

“E é nesse novo mundo que eles devem refazer as suas relações entre os povos. É o tempo deles”, observou.

Para Luís Campos Ferreira, o papel da UCCLA deve ser o de acompanhar e fomentar essa nova linguagem, sendo “um espaço de oportunidades dessas novas linguagens”.

E exemplificou: “Nós estamos habituados a exposições de pintura tradicional. A arte hoje é muito mais do que isso, a arte digital é um infinito. Nós próprios, tal como na área da economia, muitas vezes temos dificuldades em acompanhar essas evoluções, e falar de bitcoins…, são mundos escuros que muitas vezes temos dificuldades em perceber a lógica e o racional que preside àquilo. O mesmo acontece nas artes”.

“Nós devemos, ao nível dos eventos, ao nível da criação de encontros e de culturas, promover que sejam à volta destas novas zonas em que os jovens se identificam e que sabem muito mais que nós sobre isso”, disse.

“A UCCLA que eu vim encontrar precisa de partir para aí. Não é por uma questão de moda, não é por uma questão de rutura com o passado e, por isso, de preconceito. É por uma questão de manter vivas estas relações, porque senão transformamo-nos num museu da lusofonia”, advertiu.

“Julgo que há coisas que nos interessam a nós e que pouco ou nada já interessam a eles, nomeadamente aquilo que nos separou: A questão da colonização e da descolonização, que deixou feridas, marcos, dores, raivas, de lado a lado, razões, de lado a lado”, afirmou.

Reconhecendo que este passado conta e não deve ser apagado, indicou que, para os mais novos, “é muito mais importante o presente que eles têm hoje”.

“Os mais novos não vão ficar eternamente a falar disto. Se é só isto, se é só estas memórias históricas, as boas e as más, que nos unem, elas vão-se apagar e vão ser um museu que eles irão visitar, os que se interessarem por museus”, adiantou.

O caminho que Luís Campos Ferreira quer abrir tem como denominador comum a língua portuguesa, mas também o desporto, a música, as novas tendências, o humor, salientando que “faz-se um humor, em Angola principalmente, extraordinário”.

“Estas atividades podem ser a chama que aquece a relação dos mais novos em todos estes países e por isso não podemos virar costas a isso, assim como tudo o que está relacionado com as novas tecnologias, que têm que aproximar, não podem isolar”, insistiu.

O próximo ano será “um bom teste” para esta nova forma de comunicar da UCCLA, em que o novo secretário-geral está empenhado, uma vez que a instituição celebra 40 anos, a par de outros três acontecimentos: Os 50 anos da independência da maior parte dos países de língua portuguesa, os 25 anos da transição de Macau e os 500 anos de Camões.

“Vamos tentar ter ações muito simples, muito exequíveis, já com o foco nas novas gerações”, disse, acrescentando que as mesmas só terão sentido com jovens, “de idade e de espírito”, que tragam “novas formas de comemorar e de celebrar, que não sejam apenas aquelas cerimónias cheias de talha dourada e já com algum bolor do tempo”.

“É um bom teste para vermos se conseguimos modernizar q.b. [quanto baste] a UCCLA, sem naturalmente ela perder as suas raízes, os seus princípios, os seus valores”, concluiu.

SMM // MLL – Lusa/Fim

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