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Quem nunca usou esta desculpa para justificar os meses ou mesmo anos que já passaram desde a última vez que pegou num livro? Tirando eu e outros “ratinhos de biblioteca”, que acrescentaríamos à frase “todos os livros que queria”, aparentemente ninguém. Os índices de leitura do nosso país estão na cauda da Europa, rondando os 30% contra os mais de 60% dos países do topo (Suécia, Finlândia e Inglaterra). Eu sei. É normal que estes sejam os países onde se lê mais. Já viram o clima? Entre invernos com apenas quatro horas de sol e a chuva constante da ilha britânica, o tempo passado dentro de casa dá para ver todas as séries da Netflix e ainda sobra. Nos países do sul, a malta quer é andar no laréu e chegar a casa tarde. Ainda assim, ler por prazer uma média de apenas 1,3 livros por ano parece-me catastrófico.
Foi por isso que decidi escrever alguma coisa realmente útil para resolver este problema, em vez de me limitar a enumerar as razões para os vergonhosos hábitos de leitura e apontar dedos às tecnologias ou ao Plano Nacional de Leitura (hei-de lá ir numa crónica futura). Como criar tempo para a leitura, mesmo que sejamos a pessoa mais ocupada do mundo? A resposta está aqui, em 5 passos.
1º passo: encarar o livro como uma fonte de entretenimento.
Desde que foram criados, os livros estiveram conotados com as elites eruditas. Aliás, durante séculos, apenas uma ínfima minoria sabia ler e tinha acesso a eles. Mas amigos, estamos no século XXI. Continua a haver muita literatura erudita, mas também há milhares de autores que escrevem livros leves e despretensiosos, cujo objectivo não é iluminar as mentes mas sim, entretê-las. Há tantos géneros literários, da prosa à poesia, do ensaio ao humor, que é impossível não encontrar algum livro que sirva o simples propósito de entreter, tal como faz uma novela, série ou blockbuster do cinema.
2º passo: largar o telemóvel
Não há volta a dar. Em média, os portugueses passam 50 minutos por dia nas redes sociais. E, verdade seja dita, pelo que vejo à minha volta de cada vez que me sento numa esplanada ou ando em transportes públicos, esta média deve estar muito abaixo da realidade. Mas vamos assumir que são mesmo 50 minutos. Se conseguíssemos reduzir esse tempo para metade, o que é mais do que suficiente para passar os olhos pelas redes, fazer um post e deixar uns quantos comentários, ainda sobrariam 25 minutos que poderíamos dedicar à leitura de um livro. 25 minutos de leitura corresponde, mais ou menos, a 10 páginas. Só isso. Descontando aqueles dias em que não deu mesmo para cumprir, ainda assim, daria para ler um livro de 200 páginas por mês. Incrível não é?
3º passo: não insistir num livro que não nos diz nada
Todos nós temos a ideia de que um livro deve ser lido até ao fim, até porque, a maioria das estruturas narrativas têm princípio, meio e, lá está, fim. Mas essa é uma percepção errada. Tal como nos basta ver o episódio piloto de uma série para saber se vale a pena continuar, basta ler as primeiras trinta páginas de um livro para saber se nos vai cativar. Se não o fizer, passa ao próximo. Insistir em ler algo apenas porque é um clássico ou alguém nos disse que era muito bom, é um erro crasso que só servirá para transformar a leitura num momento aborrecido e, aí sim, uma perda de tempo. Por exemplo, durante vários anos da minha juventude tentei ler Saramago e sempre desisti ao fim de dez páginas. Aquilo não me dizia nada. Mais tarde, já perto dos 30, tentei de novo e fiquei totalmente rendida, sendo hoje um dos meus autores preferidos. Ou seja, não vale a pena insistir. Há tantos livros no mundo, que algum será o mais adequado ao nosso gosto e estado de espírito num determinado momento da vida.
4º passo: escolher o livro certo
Este passo está interligado com o passo anterior. É importante escolher bem o próximo livro e evitar entrar numa livraria ou numa biblioteca sem fazer ideia do que procuramos. É que há tantos livros e tantos géneros, que convém ter uma ideia do que nos apetece ler. Drama? Policial? Ficção? Vampiros? E dentro desse tema, que tipo de autores? Cada vez é mais difícil encontrar livreiros que nos saibam aconselhar, por isso, perguntem aos amigos, nas redes sociais, visitem uma farmácia literária ou comecem por comprar, precisamente, Remédios Literários, um livro com 750 sugestões para os mais variados males. Quando se começa a ler o livro certo, um que nos prende desde o início, difícil será ter tempo para fazer outra coisa.
5º passo: criar uma rotina
Há pessoas que gostam de ler na cama, outras que gostam de ler no sofá. Há pessoas que gostam de ler de dia e outras que preferem a noite. Tal como encaixamos na nossa rotina diária o exercício físico ou o passear o cão, é importante encaixarmos os tais 20 ou 30 minutos de leitura. Pode ser no metro (15 minutos para cada lado do percurso), pode ser à hora de almoço, pode ser nos tempos de espera entre actividades. Cada um deve escolher o melhor momento para si. Ajuda ter sempre um livro por perto. Na sala, na mesa de cabeceira, no porta-luvas do carro ou na mala. Olhem que há inúmeras edições de bolso que pesam tanto quanto um telemóvel.
Em suma, ler não é apenas sinal de erudição. É conhecer novos lugares, pessoas, perspectivas. É transformar pequenos traços pretos impressos em papel branco em imagens mentais e, com isso, exercitar partes do nosso cérebro que não usamos nas tarefas do dia-a-dia. É criar conexões menos óbvias. É estimular a memória e aumentar a capacidade de concentração. Ler é um exercício. Um exercício para o cérebro. Só por isso, devia fazer parte da nossa rotina diária, como lavar os dentes, caminhar ou comer fruta. Aliás, acho que os médicos deviam receitar sempre livros junto com os medicamentos. E agora que estamos de novo confinados, não haverá falta de tempo para pegarmos num. Ora experimentem!