Maputo, 03 nov 2021 (Lusa) – O ministro da Defesa de Moçambique, Jaime Neto, disse hoje que se fez história com o arranque da primeira missão de formação militar da União Europeia (UE) no país, para preparar tropas para Cabo Delgado.
“Estamos a fazer história”, referiu durante o lançamento da Missão de Formação da União Europeia (EUTM, sigla inglesa) na parada da Companhia de Fuzileiros Independente da Katembe, Maputo.
A missão é o “caminho certo” para a especialização, profissionalização e modernização das Forças Armadas e de Defesa de Moçambique (FADM), sublinhou o governante, que quer tropas com autonomia para enfrentar qualquer ameaça, como a insurgência no norte do país.
Para a UE, depois do Mali, República Centro Africana e Somália, esta é a quarta missão do género em que 140 militares de 10 países europeus, sobretudo de Portugal, vão formar cerca de 1.100 oficiais, sargentos e soldados moçambicanos ao longo de dois anos – seis companhias de comandos e cinco de fuzileiros.
À medida que forem sendo formados, vão para o terreno, combater as forças insurgentes e “proteger a população”, disse o chefe do Estado-Maior General das FADM, Joaquim Mangrasse.
As duas primeiras companhias formadas pela EUTM estarão prontas daqui a quatro meses, uma no Chimoio, centro do país, onde serão formados os comandos, outra de fuzileiros em Maputo.
“Estamos juntos” é uma expressão tipicamente moçambicana e que o brigadeiro-general Nuno Lemos Pires do exército português, comandante da missão no terreno, adotou como ideia chave da missão.
Na prática a formação consiste em praticar operações de combate, mas não só: haverá uma forte componente dedicada à proteção da população, em especial de mulheres e crianças – sendo que em Cabo Delgado tem havido vários relatos de violação de direitos humanos, de um lado e doutro da barricada.
Na ótica de Nuno Lemos Pires, “a melhor coisa que pode acontecer” às tropas moçambicanas é serem aclamados como “protetores” quando chegarem às aldeias e vilas, razão pela qual vão ser formadas “tanto a combater, como a proteger os direitos humanos, mulheres e, muito importante, proteger as crianças, que são o futuro de Moçambique”, sublinhou.
As autoridades moçambicanas, portuguesas e da UE apertaram mãos, satisfeitas perante o desfile militar que marcou o arranque de uma missão preparada por consenso dos estados-membros e “em tempo recorde” após o pedido de ajuda do Governo de Moçambique, feito há um ano.
Isso mesmo referiu António Gaspar, embaixador da UE em Maputo, realçando que esta é apenas uma componente da forte ajuda que a Europa vai dirigir para Cabo Delgado no novo quadro de apoio financeiro que este ano arranca.
A EUTM segue as pisadas da cooperação militar portuguesa em Moçambique, com décadas e no âmbito da qual mais recentemente foram formados fuzileiros, caçadores especiais e controladores aerotáticos das FADM, levando 200 homens capacitados para Cabo Delgado.
Agora, a iniciativa europeia permite “alargar” e “estender” esta formação, realçou o ministro da Defesa português, João Gomes Cravinho, no evento de hoje.
Os custos comuns para a EUTM Moçambique, a serem cobertos através do novo Mecanismo Europeu de Apoio à Paz (MEAP), estão avaliados em 15 milhões de euros para o período de dois anos, incluindo equipamento não-letal.
Uma tranche urgente de quatro milhões foi desbloqueada em julho para fornecer o material necessário para a formação das duas primeiras companhias, ação que agora arranca, para durar quatro meses.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.
LFO // PJA – Lusa/fim
UE considera “exemplar” interação com Maputo
Maputo, 03 nov 2021 (Lusa) – A União Europeia (UE) classificou hoje como “exemplar” a interação com Moçambique para implantação da missão de formação de tropas especiais para combater em Cabo Delgado, região no norte do país alvo de ataques armados.
“Moçambique é um caso exemplar” em relação à “forma como a interação se faz com as autoridades moçambicanas” e “como a UE reagiu” ao pedido de ajuda, disse hoje em Maputo o major general português Herminio Maio, diretor adjunto da Capacidade Militar de Planeamento e Condução da UE.
Aquele responsável falava durante a cerimónia de lançamento da Missão de Formação da União Europeia (EUTM, sigla inglesa) que durante dois anos vai formar 11 companhias (pelo menos 1.100 tropas) de forças especiais (comandos e fuzileiros).
“Os cenários são muito diferentes” daqueles com que o oficial português já lidou em operações de treino semelhantes na República Centro-Africana, Somália e Mali – onde há uma atividade alargada ao Burkina Faso e Níger.
“Há componentes políticas e de segurança muito relevantes” em cada país, mas em Moçambique, apesar de a insurgência na província nortenha de Cabo Delgado durar desde 2017, há “todas as condições para cumprir a missão nos dois anos, como definido, e ter sucesso”.
Ao longo dos 24 meses – com possibilidade de extensão no final – “há lições” que vão sendo identificadas e que servem para ir adaptando os treinos, de forma a “melhor preparar as forças moçambicanas para atuar no terreno”.
É o que a UE chama de “acompanhamento não-executivo”.
“Nós temos o mandato da UE, somos uma missão de treino. Não somos uma missão para participar em operações”, sublinhou.
As companhias de fuzileiros treinadas em Maputo, bem como os comandos preparados no Chimoio, a cada quatro meses, avançarão depois para a frente militar em Cabo Delgado, pelo que Herminio Maio espera ver a formação começar a traduzir-se “na melhoria da situação” na província – que já se verifica desde julho com o apoio no combate de tropas da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e Ruanda.
O objetivo é que “estas forças [moçambicanas] façam a diferença, que tenham um valor acrescentado operacional no terreno”, capazes de “atuar autonomamente sob comando moçambicano e de forma sustentada, de acordo com os padrões da UE”.
A formação para combate será complementada com uma forte componente em direitos humanos e proteção da população, nomeadamente de crianças e jovens – não só face a inimigos armados, mas também em cenário de catástrofes, como ciclones e cheias, que ciclicamente atingem o país.
Para além do treino, a UE inclui, pela primeira vez, “um conjunto de medidas de assistência com o fornecimento de equipamento militar não letal às unidades das Forças Armadas e de Defesa de Moçambique (FADM)”, realçou.
Assistência feita através de um esforço financeiro “significativo” do novo Mecanismo Europeu de Apoio à Paz (MEAP) para garantir uma ligação “essencial” entre “o treino por um lado e, por outro, o equipamento das respetivas unidades aprontadas para operações” em Cabo Delgado, destacou.
Os custos comuns para a EUTM Moçambique, a serem cobertos através do novo Mecanismo Europeu de Apoio à Paz (MEAP), estão avaliados em 15 milhões de euros para o período de dois anos, incluindo equipamento não-letal.
Uma tranche urgente de quatro milhões foi desbloqueada em julho para fornecer o material necessário para a formação das duas primeiras companhias, ação que agora arranca, para durar quatro meses.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.
LFO // JH – Lusa/fim