Jovens afrodescendentes dizem que luta contra discriminação ainda é uma realidade

Lisboa, 30 ago 2025 (Lusa) – Jovens com origens em África e a residirem em Portugal disseram à agência Lusa que a luta contra a discriminação ainda é uma realidade, quando se assinala este domingo o Dia Internacional dos Afrodescendentes.

Inês Leonardo nasceu em Portugal, mas a sua conexão com as raízes moçambicanas é profunda e foi cultivada pela família.

“As minhas raízes africanas sempre estiveram enraizadas dentro de mim”, disse a jovem, acrescentando que a mãe desempenhou um papel fundamental ao manter vivas as tradições moçambicanas através da gastronomia, da música e do convívio familiar.

Já Bernardo Lima, filho de país são-tomenses, sente uma ligação profunda com a suas origens, moldadas e perpetuadas pela forte influência da família.

Embora, Bernardo lima tenha uma conexão forte com a cultura e as tradições, contou que reconhece a dificuldade de dominar o crioulo forro – língua local de São Tomé -, que aprendeu de forma “irónica” ao ouvir os pais quando não queriam que ele percebesse o que diziam.

Já Marlúcia Caponzo partilha a sua experiência como uma afrodescendente angolana, que sente uma ligação parcial às suas raízes, reconhecendo uma mistura cultural significativa.

A jovem de origens moçambicanas critica como a história é lecionada nas escolas portuguesas, com foco em Portugal e negligenciando as história de outros países, nomeadamente os da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), afirmando que esta falta de conhecimento contribui para o racismo e para a falta de integração.

“Se a história dos PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa], da CPLP estivesse bem integrada nos conteúdos programáticos das escolas”, a nova geração teria “outra perspetiva e seria menos propensa a preconceitos”, defende Inês Leonardo.

Marlúcia Caponzo partilha da mesma opinião, acrescentando que “seria um benefício não só para a comunidade africana em Portugal, mas também para os portugueses”.

Já o jovem são-tomense acredita que a integração deste tipo de conteúdo nas escolas é uma questão complexa, por trazer “temas sensíveis como a escravatura e o massacre de Batepá” e devido ao atual clima político em Portugal, e que deve ser ponderada.

Por outro lado, o jovem considera que a divulgação da história deveria ser feita em “fóruns ou espaços dedicados para tal”.

Os jovens identificaram vários desafios como a discriminação na escola, no trabalho e nos hospitais, mostrando-se preocupados.

Marlúcia expressou também preocupação com o retrocesso nos direitos conquistados pela comunidade afrodescendente, citando, em conjunto com Bernardo Lima, os exemplos da revogação do direito de todas as pessoas que nasçam em Portugal terem a nacionalidade Portuguesa e a complicação dos processos com a Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA).

Inês Leonardo sublinhou que o racismo é uma realidade em Portugal, relatando uma experiência pessoal, onde um suposto preconceito num processo de seleção para um estágio a fez sentir “o primeiro choque e o medo do racismo”.

“Deveria haver mais representação, especialmente dentro da política. Olhar para pessoas iguais a nós”, destacou Marlúcia Caponzo, mostrando a importância desta representação para que a comunidade de afrodescendentes tenha uma voz e as necessidades representadas.

Questionados sobre mudanças para o futuro, os jovens disseram que a sua visão para o futuro passa por jovens mais ativos, informados e dispostos a “fazer a mudança” e a lutar contra o discurso de ódio e o preconceito.

“A nossa geração é a chave que pode mudar o futuro”, afirmou Inês Leonardo.

O Dia Internacional dos Afrodescendentes foi proclamado pela ONU para homenagear as contribuições da diáspora africana e combater o racismo e a discriminação racial.

A data serve também para reconhecer a riqueza das culturas africanas e afrodescendentes e reforçar o compromisso com a igualdade, justiça e desenvolvimento para todos os povos de ascendência africana.

DGYP // JMC – Lusa/Fim

Jovens habitantes do bairro da Bela Vista gravam uma música de hiphop no estúdio de som e vídeo gerido pela Khapaz – Associação Cultural de Jovens Afrodescendentes e pela Câmara Municipal de Setúbal, em Setúbal, 24 de outubro de 2020. . TIAGO PETINGA/LUSA
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