Guiné-Bissau vive uma permanente luta pelo poder

Lisboa, 03 set 2025 (Lusa) – O especialista em questões africanas Álvaro Nóbrega considerou hoje que a Guiné-Bissau vive uma permanente luta pelo poder devido à falta de uma base de consenso que tem motivado uma instabilidade político militar permanente.

O professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Portugal, descreveu, em declarações à Lusa, o atual momento político como um “déjà vu” num país com uma “vida política sempre agitada com a intervenção ativa dos militares”.

O país tem agendadas para 23 de novembro eleições gerais e presidenciais, passados quase dois anos da dissolução do parlamento e terminado o mandato presidencial, que para a oposição expirou a 27 de fevereiro e para o Presidente, Umaro Sissoco Embaló, termina esta quinta-feira, 04 de setembro.

“No plano em que a Guiné ainda se encontra, as pessoas têm de ser legitimadas pelas eleições, os mandatos já foram ultrapassados, há necessidade de realizar eleições”, defendeu o especialista, numa análise pedida pela Lusa.

Atento aos assuntos africanos, Álvaro Nóbrega lembrou que a história da Guiné-Bissau “tem sido alternada entre momentos em que parece que tudo se está a conjugar para a paz, mas de repente transforma-se tudo em lutas de poder”.

Os acontecimentos que vão sendo relatados de violação dos direitos humanos, espancamentos, entre outros, “vão mostrando que as coisas não vão bem”, na opinião do analista.

A diferença na atualidade, em relação a momentos anteriores, defendeu, é que “o espaço de opinião já não é tão controlado pelo Estado, pode-se fechar rádios”, mas a informação circula.

O Governo guineense expulsou a 15 de agosto todos os órgãos de comunicação social portugueses, concretamente a Lusa, RDP e RTP.

Portugal é, para Álvaro Nóbrega, “um ator importante porque tem uma relação histórica com a Guiné-Bissau” e “tem que decidir qual a posição que deve tomar” num cenário que descreve como “complicado”.

“Do ponto de vista de quem está no poder, interessa ter boa relação com Portugal, mas há situações que comprometem”, considerou, salientando que a relação entre os dois países “é boa”, mas “o que prejudica a relação entre Estados é a relação entre elites políticas”.

Numa situação em que Portugal “se comece a sentir mais incomodado, terá sempre de chamar outros atores para participar nesse processo”, disse, mas, no seu entender, o próprio ambiente internacional não é propício, já que “no próprio ocidente reina a incerteza, o mundo é incerto”.

No plano regional da costa ocidental africana “multiplicam-se as divisões internas com implicações em organizações como a União Africana (UA) ou a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)”.

“Do ponto de vista regional, não há uma concertação de posições no sentido de um reforço das instituições democráticas. No quadro interno da Guiné-Bissau, a própria situação das suas múltiplas lutas, fracionamentos, vai fragilizando os próprios atores guineenses, mais dependentes dos atores regionais e internacionais”, apontou.

Atores como Portugal ou a França têm uma influência limitada, na opinião do analista, que aponta outros blocos de poder da atualidade como a China, a Rússia ou o Médio Oriente.

“Não havendo capacidade externa, a vontade interna é que conta, e quem domina essa vontade interna são os militares que podem decidir em última instância”, afirmou.

Neste palco que se perpetua, “quem está no poder vai continuar a estar no poder, quem não está procura contrariar”, observou.

Foto: LUSA

HFI // MLL – Lusa/Fim

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