2025: Novo ano, a mesma incerteza política na Guiné-Bissau

Bissau, 10 dez 2024 (Lusa) – Os guineenses mudam de ano com a mesma incerteza e crise políticas com que começaram 2024, com o parlamento dissolvido e sem novas eleições marcadas.

Um ano passado da dissolução da Assembleia Nacional Popular (ANP), a Guiné-Bissau espera para saber se o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, vai marcar eleições ou se optará pela constituição de um Governo de unidade nacional ou de transição.

Todas as hipóteses ficaram em cima da mesa durante a auscultação aos partidos e outras entidades ligadas ao processo eleitoral que o chefe de Estado tem feito desde que decidiu adiar as legislativas antecipadas que tinha marcado para 24 de novembro.

A 20 dias das eleições, Umaro Sissoco Embaló decidiu que não havia condições para a realização do ato eleitoral, com base num parecer do Governo de iniciativa presidencial, que nomeou depois de dissolver o parlamento.

As audiências proporcionaram o primeiro encontro formal, desde a dissolução, entre o Presidente da República e Domingos Simões Pereira, o presidente deposto da Assembleia e do Partido Africano para a Independêcia da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que lidera a coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI-Terra Ranka), a vencedora das eleições de junho de 2023.

Simões Pereira sugeriu ao Presidente que reabra o parlamento e que seja formado um Governo de transição até à marcação de novas eleições legislativas.

Outros líderes partidários e organizações da sociedade civil têm sugerido “diálogo nacional” para resolver a crise política do país, que entra em 2025 na expectativa relativamente às legislativas e também às eleições presidenciais, já que o Presidente termina o mandato em 27 de fevereiro.

Para o professor e jornalista da rádio Capital FM Tiago Seide, “o poder está concentrado numa única figura devido à ausência de uma oposição coerente, e isso está a colocar em coma a democracia”.

Na análise que faz, refere que “a vontade popular é constantemente desrespeitada pelas atuais autoridades políticas” e lembra que o atual cenário político não é novo e os partidos que agora protestam alinharam com ele no passado.

Em 2019, o Presidente Embaló também dissolveu o parlamento de maioria PAI-Terra Ranka e formou um executivo que governou durante três anos com a maioria dos partidos políticos que agora faz oposição.

“Os partidos políticos da oposição, inclusive os dirigentes da coligação Pai- Terra Ranka, aceitaram fazer parte do executivo. Essa incoerência destes políticos e partidos políticos está a matar a nossa democracia. Até parece que não vale a pena convocar o povo para escolher os seus legítimos representantes”, observa num artigo sobre o tema.

A análise conclui que a situação que os guineenses enfrentam resulta de o Presidente da República saber que “o país carece de oposição séria, coerente e disponível a sacrificar-se para exigir a reposição da legalidade”.

A saída para o analista é “a criação de uma força política alternativa, uma liderança visionária, capaz de não só governar o país na décima terceira legislatura (2029), mas também fazer uma oposição coerente”.

Uma oposição, acrescenta, “que não se importe em entrar em nenhum Governo, durante quatro anos, fazendo uma oposição política a bem da nação, percorrendo todo o país para apresentar ao povo um projeto de sociedade, fundado no espírito patriótico e pan-africanista”.

HFI // VM – Lusa/Fim

Aspeto do dia-a-dia na Guiné-Bissau, em Bissau, 17 de novembro de 2023. ANTÓNIO COTRIM/LUSA
Subscreva as nossas informações
Scroll to Top