Maputo, 02 set 2019 (Lusa) – O diálogo inter-religioso que o papa Francisco vai promover durante a sua visita a Moçambique será uma plataforma para o reforço do convívio e tolerância entre os vários credos no país, consideram analistas.
Um encontro inter-religioso com jovens é um dos pontos de agenda da visita que Francisco vai realizar a Moçambique, entre os dias 04 e 06 de setembro.
O antigo deputado da Assembleia da República e empresário moçambicano, Amad Camal, considerou que o diálogo inter-religioso que o chefe da Igreja Católica vai promover em Maputo é importante para reafirmar a posição de Moçambique de palco de convívio e tolerância entre religiosos.
“Eu sou da opinião de que nunca é demais promover o diálogo entre as diferentes confissões religiosas, porque os riscos políticos e populistas [contra a tolerância religiosa] é grande”, defendeu Amad Camal.
Muçulmano assumido, Amad Camal alertou que Moçambique não deve ser condescendente com a garantia de que o país não está exposto a conflitos religiosos, devendo-se manter atento a qualquer foco de intolerância.
“Não foi porque não houvesse populistas, particularmente fora de Moçambique, que tentassem criar animosidades entre as diferentes confissões religiosas” que não eclodiram conflitos religiosos, frisou, dando depois a resposta.
A compreensão da diversidade religiosa é favorecida pelo facto de que “não há família moçambicana que não tenha um cristão e não há família cristã que não tenha um muçulmano”.
“Eu sinto-me representando quando o papa Francisco fala, eu sou muçulmano, mas sinto-me dignificado com as suas intervenções”, disse Amad Camal.
Filipe Couto, padre e antigo reitor da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a maior e mais antiga de Moçambique, diz que o diálogo ecuménico tem estado no centro das preocupações de Francisco nas suas visitas.
“Ele vem [a Moçambique], não só por causa da Igreja Católica, por causa de mim [que sou padre], e das freiras, mas vem visitar toda a gente”, assinalou Filipe Couto.
Mesmo em países com uma religião de Estado – e por isso avessos à existência de outras religiões -, quando são visitados por Francisco vivem um esforço de mudança de mentalidade para uma maior tolerância religiosa.
“Ele fez isso nos Emiratos Árabes Unidos, foi visitar Abu Dabi e fizeram um acordo de tolerância entre religiões”, destacou Filipe Couto.
Saíde Habibe, membro do Conselho de Estado moçambicano e líder muçulmano, considera que papa Francisco goza de autoridade para revitalizar o diálogo religioso, porque a sua influência transcende o universo do catolicismo.
“O diálogo inter-religioso é um processo que não começa hoje [em Moçambique], mas há a necessidade de recriar esse diálogo”, declarou Saíde Abibo.
E porque a dimensão do papa Francisco ultrapassa a esfera católica, a visita a Moçambique deve tocar a todos os moçambicanos, acrescentou.
O papa Francisco chega a Moçambique na quarta-feira para iniciar um périplo que o levará no dia 06 a Madagáscar e no dia 09 às ilhas Maurícias.
Os pontos altos da visita a Moçambique são um encontro inter-religioso com jovens num pavilhão desportivo da baixa de Maputo e uma missa no Estádio do Zimpeto em que são esperadas até 90 mil pessoas, segundo a organização.
A visita de Francisco acontece um mês depois de assinado o terceiro acordo de paz no país entre o Governo e o principal partido da oposição (Renamo).
Antes dele, João Paulo II visitou Moçambique em 1988, antecedendo o primeiro acordo que em 1992 poria fim à guerra civil.
De acordo com o censo geral da população moçambicana de 2017, a religião católica é seguida por 26% da população, o maior grupo, o Islão representa 18%, a religião zione 15%, evangélicos/pentecostais 14% e anglicanos cerca de 1%.
PMA // PJA
Lusa/Fim