Vem Cantar completa 23 anos

Uma das primeiras recordações que tenho de Goa quando cheguei há 23 anos, foi estar a caminho de Navelim (cidade no sul de Goa), numa carrinha, com um grupo de alunos a cantar “Ó Malhão, Malhão”. Era jovem e tinha começado a minha carreira no ensino do português como língua estrangeira. O Rosary College de Navelim tinha instituído o concurso da canção portuguesa Vem Cantar muito recentemente e convidava todas as escolas que ensinavam português, para participar no concurso. Não me lembro do número exato dos alunos que levei nesse ano de Panjim (capital de Goa), mas que lá levava uma grande claque, bem, isso, sem dúvida.

Logo no ano seguinte, sugeri ao diretor da Faculdade Rosary College de Navelim para introduzir uma secção de grupos e a verdade é que logo no ano a seguir não só levava os meus alunos para cantar individualmente, como também levava um grupo.

Quem se lembra da canção “Solta-se o beijo” da Ala dos Namorados? Foi dos discos mais vendidos em 1999 e chegou até Goa através dos meus alunos.

Foi logo no ano a seguir que a Fundação Oriente, percebeu o alcance que o Vem Cantar poderia ter e passou a apoiar o concurso.

Com o passar dos anos, deixei de ser a professora que acompanhava os alunos, para estar na mesa como parte do júri. 

Lembro-me que havia às vezes tantos alunos que eu e os outros membros do júri passávamos horas a ouvir centenas de vozes e ficávamos indecisos do que era mais importante: terminar a sessão ou interromper para ir à casa-de-banho.

O número de categorias aumentou gradualmente. Para além dos alunos da escola secundária, o concurso começou a incluir uma categoria para adultos.

De júri, passei para o palco. Não, não foi para começar a minha carreira de cantora, mas para apresentar os concorrentes agora dos 8 anos até adultos com 60-65 anos.

Diz Anushka Sapeco (minha aluna): Lembro-me que andava no décimo segundo ano e acho que era já a primeira ou segunda edição do concurso. Cantei em português pela primeira vez. No quinto concurso fui mesmo apresentadora. Quando andava na faculdade, participei outra vez, mas com um grupo. 

Da sala da faculdade do Rosary College, passou-se o concurso para verdadeiras salas de espetáculo com mais de 900 espetadores e mais de 100 participantes.  

Inês Figueira – delegada da Fundação Oriente diz: Ao longo dos anos o Vem Cantar tem crescido exponencialmente, sendo hoje em dia um dos mais aguardados concursos musicais em Goa. Para além de promover o já por si reconhecido singular talento musical Gôes, o Vem Cantar é uma das ferramentas mais eficazes na promoção da língua portuguesa. 

Quando se chegou ao auge, veio a pandemia, o medo, o silêncio.

Inês Figueira acrescenta: Nestes últimos dois anos, as limitações trazidas pela pandemia não apagaram o entusiasmo dos nossos participantes e foi por causa do enorme esforço dos cantores, músicos e das suas famílias que decidimos avançar com a versão online do Vem Cantar. 

A Fundação Oriente e o Rosary College de Navelim encontraram-se. Teria de haver uma solução. Depois de algumas reuniões, decidiu-se que apesar do medo, eliminar–se-iam os grupos e o concurso continuaria a existir mas agora online. É esta agora a minha função: Trazer até aos media este concurso. Por trás da câmara, vejo-os tirar a máscara cuidadosamente, a medo, metê-la no bolso durante os 3-4 minutos da duração da canção. Sala quase vazia. Não há palmas. Eu, a câmara, um ou dois músicos e o cantor ou cantora.

As músicas de agora? Para além dos clássicos, a Mariza é presença constante e tive a agradável surpresa de ouvir uma das canções da Luísa Sobral “O meu cão” por uma das mais novas participantes com 8 anos.

O Vem Cantar vai continuar a ser uma presença importante em Goa? Vai sim porque como diz a nossa fadista de Goa Sonia Shirsat: A música está no nosso sangue. Todos gostam de música, não só os católicos, mas toda a gente em Goa. 

Para o ano há mais.

Para mais ficam os seguintes links:

Vem Cantar para a Hora dos Portugueses (RTPi)- 2017

https://www.youtube.com/watch?v=pk-Npp-BP-k&t=40s

A música em Goa no programa Contacto Goa (RTPi) – 2009

https://www.youtube.com/watch?v=0a9x-s0hXqw

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Nalini Sousa

Nalini Elvino de Sousa é uma portuguesa de origem goesa que vive em Goa há mais de 25 anos. É incapaz de estar quieta e essa inquietude leva-a assumir vários papéis: professora, realizadora, produtora e etnomusicóloga.
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