Imagem: Lisa Pinto e David Pinto
Foi há 5 anos atrás.
Conheci o Gonçalo Morna por puro acaso. Estava à procura de um pouco de Portugal em Goa e ali estava um português que ainda por cima tinha um café com o nome Nata.
Começámos a conversar e ele explicou-me o conceito. A ideia era criar um lugar onde pudesse servir uma bica e um pastel de nata tal como em Lisboa, a única diferença é que estávamos a 8300Km de distância da capital portuguesa.
Não deixou de fora a tosta mista ou o prego no pão, mas foi o pastel de nata quem reinou nos 5 anos que, entretanto se passaram.
Hoje Gonçalo Morna já não é o único a fazer pastéis de nata. Os goeses ganharam-lhe o gosto e quando vão a Portugal de férias não deixam de encontrar formas de o aperfeiçoar.Em Anjuna o café Nata – aliás transformado em restaurante recentemente – continua a ser rei. Em Panjim, a história é outra.
São vários os cafés e pastelarias. Fui experimentar alguns e descobri que têm origem numa só cozinha que pertence a uma goesa empreendedora: Marlene Menezes.
Marlene começou a fazer pastéis só para os amigos, depois foi deixando a timidez para trás e decidiu aceitar encomendas para aniversários, batizados entre outros. Hoje até já tem um nome para as suas criações: Marlene’s Tasty Treats. Claro que não se ficou só pelos pastéis de nata. Prepara um toucinho do céu delicioso que tem origem numa receita da avó. Tem também empadinhas de galinha, de porco entre outros salgadinhos. Os pastéis claro, continuam a ser número 1.
Quando sai uma fornada da cozinha, quem é o primeiro a provar um pastel? Bem, o cão de estimação da Marlene. É vê-lo babar-se todo, com a língua de fora à espera que a Marlene lhe dê um pastel antes de sair com as sua encomendas. É que os animais também são gente!
Vários são os cafés onde a Marlene fornece os seus pastéis de nata, mas o meu favorito é o Café Caravela porque este café também serve uma boa bica. Fica num bairro muito conhecido e que se chama bairro das Fontainhas. Está sempre apinhado de turistas com as suas máquinas fotográficas que se deliciam com as cores garridas do bairro mais famoso de Panjim. Depois dos olhos se encherem com as cores do arco-íris, onde é que os encontramos? No café Caravela, agora com o telemóvel, pois a próxima fotografia é para a história do instagram.
No entanto, não pensem que Goa não tem homens empreendedores. No meio desta pandemia que nos afetou a todos, um jovem goês acabou de abrir uma pastelaria, mas decidiu não dar o nome de pastelaria. Perguntei-lhe porquê. Disse-me que em Goa, todos os que querem dar um nome português a um lugar onde vendem salgadinhos, doces e bebidas, dão o nome de pastelaria. Ele quis ser diferente. Resolveu chamar à sua pastelaria: Padaria Prazeres e é sem dúvida um prazer entrar neste lugar, mas se pensam que Prazeres vem do prazer de lá estar, enganam-se. O apelido deste goês de que vos falo é Prazeres. José Ralph Gomes Prazeres estudou em Goa, trabalhou na Europa incluindo Portugal. Confessa que enquanto vivia em Lisboa, comia pastéis de nata todos os dias e daí surgiu a ideia de começar esta pastelaria. É pequenina, tem apenas 3 mesas, mas por quem lá passar vai ver que está sempre cheia. As pessoas não se podem sentar devido ao malfadado vírus, mas fazem as suas encomendas. Cá fora, vêem-se carros estacionados, de janela aberta. Lá dentro saboreia-se um pastel ou outro salgado dos vários que o Ralph tem na montra. No dia em que lá fui, encontrei um cliente que até falava português e vinha de Margao só para levar pastéis de nata. Quando digo “só para levar” é porque de fato, ninguém no seu perfeito juízo faz uma viagem tão grande para comprar pastéis de nata. Para quem não sabe, Margao fica no sul de Goa e se eu vos disser que fica só a 35.5Km de distância de Panjim, um lisboeta dirá: mas isso, até é perto! Pois, mas venham aqui para Goa e logo percebem que não é bem assim. As estradas em Goa não são propriamente as auto- estradas de Lisboa e portanto, uma viagem de carro de Panjim a Margao ou vice-versa, são pelo menos 50 minutos de carro (num dia em que não haja um acidente na estrada). O que eu mais gosto tanto no caso do café Caravela como no caso da Padaria Prazeres, é que ambos são estabelecimentos familiares.
Se vamos ao Caravela encontramos o filho Carlos a tirar uma bica, o pai Carlos a conversar calmamente com um cliente e a mãe a atender outro cliente. Há qualquer coisa de especial quando se entra em estabelecimentos assim. Eu por exemplo, nunca saio sem meter dois dedos de conversa com o pai Carlos que fala Português.
No caso da padaria Prazeres o que eu mais gosto é o facto de que, tudo é feito pelo casal Prazeres. O Ralph confessa-me que não tem jeito para números. O que ele gosta mesmo é de estar na cozinha, mas a mulher é o oposto, portanto encontramos sempre a Stacy ao pé da caixa registradora. Como o Ralph me diz numa entrevista: Ela é que controla o dinheiro. Pelos vistos resulta, porque o negócio vai de vento em popa.
Como vêem, não há falta de pastéis de nata em Goa e é através deste pequeno doce que a presença portuguesa se vai mantendo ao contrário da língua, mas isso fica para outra história.
Goa, Julho de 2021
Nalini Elvino de Sousa
Para mais, ficam os seguintes vídeos:
Hora dos Portugueses – café Nata (a origem):
Hora dos Portugueses – Marlene Menezes:
Hora dos Portugueses – restaurante Nata:
Hora dos Portugueses – Café Caravela
Hora dos Portugueses – Padaria Prazeres:
Nalini Sousa
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