A Universidade Jiaotong de Pequim realizou, na semana passada, a primeira edição da semana cultural dedicada à cultura e língua portuguesa. O programa contou com várias palestras cujo objetivo foi, como o nome indica, dar a conhecer um pouco da cultura portuguesa em terras sínicas. Vinho, chá, festividades, cinema, enfim, abordou-se de tudo um pouco num esforço notável de apresentar um pouco das vivências lusas.
O Diário do Povo Online marcou presença no desfecho do evento, assistindo ao concurso de declamação de poesia portuguesa, para conhecer (e dar a conhecer) um pouco do trabalho a ser realizado no recém-criado departamento de português da universidade. A atividade, que contou com uma adesão considerável, na perfeição o espírito da ocasião anual mais importante para o povo português: o Natal. Trocas de prendas, distribuição dos barretes característicos do pai natal e músicas inconfundíveis foram rituais que, para deleite de todos, não passaram despercebidos à organização.
Os participantes, na sua larga maioria alunos do 1º ano, conseguiram o feito de, num curto espaço de tempo, articular na língua de Camões versos de poetas incontornáveis como Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner Anderson, Fernando Pessoa, Alexandre O’Neill, José Luís Peixoto, entre muitos outros. O concurso viria a fechar em apoteose com a participação simbólica de Xu Fangzhou (ou Rafaela em português), uma colega do quarto ano do curso de português da Universidade de Língua e Cultura de Pequim. A aluna declamou de forma irrepreensível o Fado Português de José Régio, ao som da música homónima da eterna Amália Rodrigues, recebendo um merecido aplauso bem audível por parte da plateia sino-portuguesa.
Zhang Wangdan – Matilde em português – foi a feliz contemplada com o primeiro prémio pela declamação do poema “Aprendamos o Rito” – nome algo sugestivo se atentarmos ao contexto temporal e cultural em que os seus versos foram proferidos – de José Saramago.
A premiada reconheceu que um encontro com a língua portuguesa “que aconteceu por acidente, rapidamente se tornou numa paixão”. Como maior entrave ao estudo da língua, a Matilde refere que a “compreensão oral tem sido um obstáculo difícil de ultrapassar”, perdendo-se imediatamente em elogios aos seus professores pelo apoio que tem recebido para o efeito.
Quando questionada relativamente aos planos para o futuro, a “caloira” diz querer ser uma “tradutora qualificada e ajudar a criar uma ponte de comunicação entre Portugal e a China”.
Para uma universidade famosa pela sua formação na área das engenharias, com enfoque na indústria ferroviária e nas suas afluentes, a presença de um instituto com raízes nas ciências humanas e sociais é insólita. A diretora Wang Chengxu, Érica em português, explicou os motivos que culminaram com a fundação do departamento: “Hoje em dia a China fala muito sobre a estratégia “Um Cinturão e uma Rota”… precisamos de ensinar português não só aos alunos da licenciatura em língua portuguesa, mas também aos alunos de outros cursos que vêm frequentar as aulas em regime opcional. Este é o motivo principal por detrás da abertura do departamento: preparar quadros para trabalhar com os países falantes de língua portuguesa.”
Com uma média de entrada elevada, os alunos da licenciatura em língua portuguesa perfazem uma turma de 19 lecionandos. O corpo docente é composto por quatro docentes chinesas e uma leitora portuguesa.
Os alunos poderão escolher no terceiro ano do curso estudar em Portugal, na Universidade do Minho, ou no Brasil, na Universidade Estadual de Campinas, com as quais a instituição chinesa estabeleceu protocolos de intercâmbio.