Universalização da literatura é prioridade da Academia Cabo-Verdiana de Letras

Espargos, Cabo Verde, 07 jul (Lusa) – A Academia Cabo-Verdiana de Letras (ACL) definiu como prioritária, para este ano, a universalização da literatura cabo-verdiana, projeto que várias iniciativas literárias previstas no país vêm reforçar, segundo disse à agência Lusa a presidente Vera Duarte.

“Temos um projeto, que este ano ganhou a definição certa, de procura da universalização da literatura cabo-verdiana. Queremos chegar a outros lados, ao mundo lusófono e a outros mundos. A tradução é um elemento fundamental nessa procura, por isso é que definimos, no início deste ano, que um dos objetivos da academia era dar pequenos passos nesse processo de internacionalização”, disse Vera Duarte.

A presidente da ACL falava à agência Lusa no âmbito do Festival Literatura-Mundo, que decorre na ilha do Sal até domingo, e que para a também escritora veio na hora certa.

“Neste ano que definimos isto como prioritário, outras entidades e outros quadrantes também estão a trabalhar neste sentido. O festival de Literatura-Mundo que não poderia vir em melhor momento porque nos põe em contacto com outros escritores, outras literaturas no âmbito da lusofonia, da francofonia da anglofonia”, considerou.

Vera Duarte apontou ainda o festival de literatura Morabeza, previsto para outubro ou novembro, e o encontro de escritores da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), ambos na cidade da Praia, como iniciativas igualmente importantes.

Paralelamente, a Academia tem em processo de tradução, pela Bridgewater State nos Estados Unidos, o livro “Prosa literária pós independência”, que reúne contos e crónicas, numa colaboração de mais de 40 autores cabo-verdianos.

Está ainda a trabalhar num “livro escrito entre irmãos”, que junta escritores da Academia Cabo-verdiana de Letras e escritores brasileiros da Academia Duriense de Letras Sergipe, com nomes como Dina Salustio ou Filinto Elísio.

Sobre a primeira edição do festival Literatura-Mundo do Sal, que reúne desde quinta-feira e até domingo, na mais turística de Cabo Verde, meia centena de participantes, Vera Duarte considerou “muito importante” conseguir manter a iniciativa.

“Seria muito importante que houvesse sustentabilidade. Claro que a sustentabilidade do festival está intimamente ligada com a sustentabilidade do turismo no Sal. Parece que as coisas estão bem encaminhadas neste sentido, mas é importante que continue a haver essa vontade dos promotores do turismo”, disse.

A presidente da Academia Cabo-Verdiana de Letras sublinhou ainda a importância do evento na “abertura de uma brecha” para as mulheres escritoras “num muro” ainda dominado por homens e, às vezes, marcado “pela misoginia”.

“A participação de mulheres nestes eventos está a abrir a brecha neste muro. Já conseguimos abrir uma grande brecha, mas é importante ter visibilidade, que foi sempre negada às mulheres. Começam a ter alguma visibilidade, não é grande coisa, mas começa a haver alguma”, disse.

A afirmação das mulheres na literatura é um caminho sem volta, segundo Vera Duarte, que apela para a denúncia de “atitudes misóginas que ainda existem e não fazem sentido no mundo em pleno século XXI”.

“Este é o tempo histórico das mulheres que estão na escrita reivindicarem autoria e visibilidade” para um dia conseguirem também estabelecer cânone literários, disse.

O festival Literatura-Mundo, que tem curadoria do escritor português José Luís Peixoto, prossegue hoje com a realização de oficinas de poesia e música, conversas com escritores e uma conferência sobre a literatura-mundo nas ilhas.

CFF // VM – Lusa/Fim
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