Uma língua de 15 mil anos: origem comum das línguas euro-asiáticas (e do português)?

Os estudiosos da origem das línguas já perceberam como facto a semelhança de diversas palavras de mesmo significado em vários idiomas. Um exemplo é “mãe” em português: –– torna-se mère em francês, madre em espanhol e em italiano,  mother em inglês,  Mutter em alemão,  moeder em holandês,  mater em latim,  mat em russo,  madar em farsi (ou persa),  ma em hindi e matru em sânscrito.

E se dissermos que, com base nisso, essa palavra tinha uma forma comum usada há 150 séculos, na Pré-História, em uma língua remota que deu origem a todas essas que são faladas hoje por metade da população mundial, incluindo as línguas neolatinas?

Esse é o caminho defendido por um estudo realizado por uma equipa de linguistas britânicos e neozelandeses da Universidade de Reading, cidade situada no Vale do Tâmisa, a 50 quilómetros a oeste de Londres. O trabalho (aqui disponível em inglês) foi publicado no início de maio pela revista científica da Academia Nacional de Ciências dos EUA.

Essa equipa descobriu vestígios de que muitas das línguas faladas no mundo hoje – o que envolve, por baixo, cerca de 700 línguas de diversos ramos linguísticos modernos, a incluir, entre outros, idiomas tão diferentes entre si, como o português, o farsi (ou persa), o alemão, o hindi ou o russo – descendem de uma única língua ancestral pré-histórica, de cerca de 15 mil anos atrás.

“Todos na Eurásia podem traçar a sua ascendência linguística para um grupo ou grupos de pessoas que viveram cerca de 15 mil anos atrás, provavelmente no sul da Europa, quando houve o fim da última grande glaciação”, disse o biólogo Mark Pagel, especialista em Teoria da Evolução e em linguística histórica e professor da Universidade de Reading,  em reportagem do jornal britânico The Guardian.

–– “Palavras ultraconservadas” por 15 mil anos ––
Como os investigadores chegaram a essa conclusão? Através da comparação de um pequeno conjunto de palavras em várias línguas bem diferentes entre si, mas que se assemelham umas às outras no som, no aspecto visual e no significado. Estes termos afins – como “mãe”,  madre,  mater,  Mutter, citadas no início deste artigo – são referidos como “cognatos”.

Seguindo o rasto dentre essas palavras cognatas, a equipa chegou a 23 “palavras ultraconservadas”, que praticamente não variaram com a passagem dos séculos e que, pelo menos, seriam muito próximas das palavras pertencentes a essa presumida língua pré-histórica. Estas palavras incluem “mãe”, “não”, “o que”, “homem”, “mão”, “puxar”, “fogo”, “dar”, “cinzas”, e várias outras que se acredita que sejam as mais usadas nessa língua antiga e em todas as centenas de outras que dela derivaram nos últimos 15 mil anos.

Na lista publicada nesse estudo das 23 palavras que mais têm semelhança nas línguas eurasiáticas estudadas, o pronome “tu” aparece no topo, seguida de “eu”, “não”, “o que”, “nós”, “dar” e “quem”. Ler o artigo completo.

 

 

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