AO DOUTOR JORGE SAMPAIO
11 de setembro de 2021
O Doutor Jorge Sampaio largou o último suspiro em Portugal, a 10 de setembro de 2021. Na Oceania, na ilha (outrora) do sândalo, no pico de Ramelau ou Tatamailau (ou ainda, nos ritos tradicionais, “Hoho-Mai Nam-Tu”), lá nas fronteiras da Terra com o céu azul das divindades tribais e de Na’i-Maromak, onde, em cada segundo, intercede a Virgem Senhora do Rosário de Fátima pelo seu amado povo lutador…, no seu cume, símbolo do seu maior orgulho, Timor-Leste lacrima de saudades por um grande amigo.
A dor justifica-se pela perda da proeminente figura portuguesa que foi emblemática da estreita solidariedade entre dois povos que a história quis sagrar de irmãos – lusitano e timoroan.
Ilustrando, a lembrar um momento alto: a Resistência Timorense – aquando trazida ao apogeu mediático no altar do mundo, na capital norueguesa (Oslo), naquele frígido-caloroso 10 de dezembro de 1996, para o partilhado Prémio Nobel da Paz por Ximenes Belo e Ramos-Horta – foi triunfalmente empolgada pela majestosa presença de Jorge Sampaio. Este, propositado pela ocasião, sumulou o verdadeiro significado e a extensão planetária dos ‘Heróis do Mar’, e como não?! Frente às câmaras do CNN, o douto político selou contundente a persuasão da comunidade internacional da ‘é chegada a hora’ para o inalienável direito do povo timorense.
Quando se quer aprender e apreciar a Política, a História Universal, ou as Ciências Sociais e Humanas em geral, tem-se-nas em lição de rara finura, como o que aconteceu naqueles minutos em que, aos fitos olhos do mundo, corria admirável a intervenção do Chefe do Estado português. Foram momentos em que, pelo mundo fora e face a écrans ou junto a aparelhos radiofónicos, todo o versátil em matéria da luta de libertação timorense podia em plena anuência balbuciar, por reflexo e sintonia, o profícuo discurso do hábil orador, onde a palavra e a comunicação – expressas em inglês lapidar – se confundiam com a força da razão e com os pilares civilizacionais hodiernos da sociedade humana: a favor do direito à autodeterminação e independência do Povo de Timór Lorosa’e.
Obrigadu barak! Adeus mui querido amigo Doutor Jorge Sampaio, e que Deus Nosso Senhor o acolhe em Sua morada santa! À família dorida, unímo-nos em oração com os mais sentidos pêsames!
* OLE-MATE – no substrato cultural timorense da zona de Suro-Ainaro, um dos géneros ritualísticos típicos de arte verbal, cantante e pungente [ala requiem], exibido nas línguas locais Mambai e Quémaque por anciãos locais em homenagem aos seus defuntos de destaque!


Benjamim de Araújo Corte-Real

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