UCCLA presta homenagem aos membros da Casa dos Estudantes do Império

“Neste ano, faz 50 anos que a Casa dos Estudantes do Império foi extinta pela polícia política portuguesa, a PIDE. Faz também 40 anos que os países africanos de língua oficial portuguesa tornaram-se independentes e faz 30 anos que a UCCLA foi criada”, declarou à Lusa Vítor Ramalho, secretário-geral da organização.

De acordo com Ramalho, estes “são acontecimentos importantes demais para nos esquecermos”, pelo que a UUCLA decidiu homenagear os membros da Casa dos Estudantes do Império.

“Sobretudo, devido ao contributo destes jovens que nos idos de 1950 e 1960 vieram estudar para Portugal”, afirmou Vítor Ramalho.

A Casa dos Estudantes do Império foi fundada em 1944 com o objetivo de permitir aos estudantes das colónias, na altura, a frequentarem a universidade, visto que não havia ensino superior naqueles países.

“O propósito do regime português, quando criou a Casa em 1944, era enquadrá-los (os estudantes africanos) numa lógica de depois reproduzir o próprio sistema político nas ex-colónias”, sublinhou.

Segundo Ramalho, “o tiro saiu pela culatra, porque estes jovens sob o vento da descolonização procuraram estudar a identidade dos territórios de que eram originários”.

“A partir daí nasceram os maiores escritores africanos de língua portuguesa, que são referência, como Craveirinha, Francisco José Tenreiro, Alda do Espírito Santo, Pepetela e também políticos, como Amílcar Cabral e Agostinho Neto, Joaquim Chissano, Pedro Pires, entre tantos outros”, referiu ainda.

“Estes jovens fizeram uma fuga organizada nos idos de 1960, para a França, e a polícia encerrou a Casa logo a seguir”, acrescentou.

Muitos destes estudantes viriam a ser membros importantes nas lutas dos movimentos de independência dos países africanos de Portugal e, posteriormente, líderes nos seus países, como Agostinho Neto e Amílcar Cabral.

“Há uma memória muito viva das pessoas mais velhas sobre a importância da Casa dos Estudantes do Império para a sua formação. São pessoas com já alguma idade e, dentro de cinco, seis anos, poderíamos não conseguir realizar esta homenagem com todos”, disse ainda.

Esta homenagem organizada pela UCCLA inicia-se na quinta-feira (21), com a inauguração da mostra “Casa dos Estudantes do Império. Farol de Liberdade”, na Galeria de Exposições da Câmara Municipal de Lisboa.

A exposição é uma mostra documental, com fotografias, publicações periódicas, livros, documentos oficiais, cedidos ou disponibilizados pelos associados e por algumas instituições que se associaram à mostra, que estará patente ao público até ao dia 25 de junho.

Nos dias 22, 23 e 25 de maio, na Fundação Calouste Gulbenkian, será realizado o “Colóquio Internacional Casa dos Estudantes do Império: Histórias, memórias e legados”, em que estarão presentes especialistas de vários países para debater as histórias, memórias e legados da Casa.

A sessão de encerramento desta homenagem será realizada no dia 25 de maio, na Fundação Calouste Gulbenkian, contando com a presença de vários ex-presidentes (Miguel Trovoada, Pedro Pires) e ex-primeiros-ministros (Fernando França Van Dúnem, Mário Machungo, Pascoal Mocumbi) dos países africanos lusófonos, além do ex-Presidente Jorge Sampaio e outras autoridades portuguesas.

No âmbito desta homenagem será realizado ainda um passeio com os convidados pelos principais pontos de encontros/estudo/convívio dos estudantes da Casa em Portugal.

A cerimónia inaugural desta homenagem ocorreu a 28 de outubro, na reitoria da Universidade de Coimbra.

CSR // PJA – Lusa/fim




Foto: Vitor Ramalho, secretário-geral da UCCLA. 19 de maio de 2015. Lisboa

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