Estiveram reunidos na capital francesa o secretário-geral da Organização Internacional da Francofonia (OIF), o antigo presidente do Senegal, Abdou Diouf, e o secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o moçambicano Murade Isaac Murargy, bem como o uruguaio Enrique Iglesias, nome máximo da Secretaria-Geral Ibero-Americana (Segib), que representou o mundo de língua espanhola.
Após a reunião, eles assinaram uma declaração que confirma a importância da diversidade linguística e cultural como ferramenta imprescindível para o desenvolvimento sustentável e vontade mútua de reforçar a cooperação entre as respectivas organizações.
Abdou Diouf inicialmente evocou as ações da OIF em defesa do multilinguismo, lembrando que elas fazem parte de um quadro mais amplo, o do “direito ao respeito e à livre expressão dos povos a partir de suas diferenças”.
De facto, de acordo com o secretário-geral da Francofonia, o “unilinguismo” praticado no mundo, em nome de “supostas considerações práticas e económicas”, exclui “milhões de falantes que descem de categoria linguística no caminho do declive cultural”.
Daí a necessidade de mobilizar-se e de continuar o diálogo iniciado há 12 anos entre os Três Espaços Linguísticos – a Lusofonia, o mundo francófono e o mundo hispanófono – e estendê-lo a outras áreas linguísticas, como sugere a declaração apresentada.
O texto também fornece as bases de cooperação dos Três Espaços Linguísticos nos próximos anos, especialmente nas seguintes áreas: a promoção do multilinguismo no cenário internacional; o valor econômico das línguas; o papel das línguas no ensino superior e na investigação académica; o multilinguismo no mundo digital; e a aplicação da Convenção da UNESCO [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura] sobre a proteção e a promoção da diversidade das expressões culturais.
Da esq. para a dir: os representantes máximos das organizações dos Três Espaços Linguísticos reunidos em Paris: Enrique Iglesias, Abdou Diouf e Murade Isaac Murargy.
–– As línguas são pontos de apoio para a compreensão do mundo ––
Em sua apresentação, Iglesias destacou que “a língua e a cultura são um ponto de apoio para a construção de mundo que se entenda melhor”.
O representante hispanófono advertiu que o auge da “globalização da economia” provocou “um deslocamento da economia do Ocidente para o Oriente”, mas mesmo assim a alegada causa do predomínio do inglês “poderia levar à perda da diversidade cultural e linguística”. E acrescentou: “Não protegemos a língua apenas como uma identidade linguística, mas também como uma identidade cultural que reflete valores próprios.”
–– Murargy: as línguas “transportam uma visão do mundo” ––
O secretário-executivo da CPLP, Murade Murargy, apoiou as declarações de Abdou Diouf e de Enrique Iglesias e sublinhou na reunião que as línguas “transportam uma visão do mundo nas relações internacionais”.
Também falou no encontro o diretor-executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, o brasileiro Gilvan Müller de Oliveira, declarando que “até mesmo os países anglófonos começam a dar-se conta de que o inglês não é suficiente para entender o mundo”.
–– O papel fundamental das línguas em um mundo multipolar ––
Na declaração assinada em Paris, os três representantes lamentaram a dissolução da União Latina, que “representou o desaparecimento de um ator fundamental para o desenvolvimento de uma cooperação dos Três Espaços Linguísticos baseada em projetos”.
Por outro lado, comprometeram-se a organizar um evento anual conjunto e a divulgar o diálogo nas atividades, na comunicação social e nas Cimeiras de Chefes de Estado e de Governo dos países-membros das três organizações. Tais compromissos têm em vista que “os espaços que eles representam desempenham um papel fundamental na nova organização de intercâmbios linguísticos decorrentes da globalização da economia e da multipolaridade nas relações internacionais”. :::
Fonte: Ventos da Lusofonia
Foto: Os três secretários-gerais e executivos de “Os Três Espaços Linguísticos”.