Timor/ONU: Pedro Unamet, o menino do referendo, quer estudar em Portugal

Treze anos depois do nascimento que correu mundo, a agência Lusa foi falar com o jovem, no bairro de Santa Cruz, em Díli, onde vive com a mãe e quatro irmãos.

Foi com um grande sorriso e vestido com uns calções caqui e uma camisola às riscas azuis, vermelhas e brancas, que explicou à Lusa, como passa os dias, o que gosta de fazer e o que quer para o seu futuro.

O sorriso aumentou quando disse que gostava “muito de chocolate” e de ir ao Timor Plaza, um centro comercial inaugurado este ano em Díli e que faz as delícias dos mais novos por causa dos divertimentos disponíveis para crianças.

Pedro Unamet Rodrigues nasceu três dias depois do anúncio do resultado da consulta popular, supervisionada pela Missão das Nações Unidas em Timor-Leste (UNAMET), de 30 de agosto de 1999, que pôs fim a 24 anos de ocupação indonésia.

Na sequência do anúncio dos resultados, a 04 de setembro, milícias pró-Jacarta, apoiadas pelo exército indonésio, iniciaram uma vaga de violência e destruição no país e confinaram o pessoal internacional à sede da UNAMET em Díli.

A mãe de Pedro, Joana Freitas, fugiu aos ataques das milícias e, em final de gravidez, o seu pedido de refúgio nas instalações da ONU em Díli foi recusado.

Sem baixar os braços, conseguiu saltar, durante a noite, a vedação e entrar no recinto das Nações Unidas, onde Pedro Unamet Rodrigues nasceu a 07 de setembro e a designação da missão passou, por sugestão do pessoal que auxiliou o parto, a fazer parte do seu nome.

Treze anos depois, Pedro Unamet Rodrigues estuda numa escola pública, perto de casa. “Vou à escola, depois volto para casa e brinco com os meus irmãos”, disse à Lusa o jovem timorense ao descrever o seu dia a dia, que inclui “muitos amigos” na escola e uma “playstation”.

Andar de bicicleta e ir à praia são outras das atividades preferidas de Pedro, mas o sorriso é maior quando saboreia a palavra chocolate. “Gosto muito de chocolate”, disse, mas também come legumes, apressou-se a acrescentar o rapaz que perdeu o olho direito numa pedrada durante uma brincadeira de crianças.

Quando fala do Timor Plaza, os olhos brilham e viram-se para a mãe. É que o Natal está quase a chegar e pediu ao “menino Jesus” uns calções e uma camisa.

Em 2009, numa entrevista à Lusa, Pedro Unamet Rodrigues queria estudar na Austrália e ser ministro da Saúde.

Três anos mais tarde, continua a querer ser ministro da Saúde, “porque sim”, mas agora prefere estudar em Portugal.

“Queria uma bolsa de estudo para ir para Portugal estudar”, afirmou o rapaz, que percebe português mas só fala tétum.

Dona de uma carpintaria, onde os caixões podem chegar a custar cerca de 800 euros cada, Joana Freitas, divorciada, reconheceu que as suas condições de vida nos últimos 13 anos “melhoraram bastante”, mas precisa de ajuda para que Pedro Unamet Rodrigues possa estudar em Portugal.

Dos cinco filhos, o mais velho, com 18 anos, vai este ano para a universidade. Os restantes frequentam as escolas públicas.

É a educação dos filhos que preocupa aquela mãe que lamenta: “Muitos jornalistas estrangeiros vêm saber como é que está a vida dele, menos os jornalistas e o Governo timorenses”.

“Gostava de ter mais ajuda do Governo”, declarou.

MSE // HB.

Lusa/Fim

Foto: LUSA – Pedro Unamet Rodrigues (D), acompanhado pela mãe, Joana Freitas (E) ANTONIO AMARAL / LUSA

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