Díli, 15 maio (Lusa) – Um reitor timorense defendeu hoje que Governo, Igreja e sociedade civil devem fomentar parcerias para ajudar os timorenses a dominar a língua portuguesa, que considerou essencial para a ciência e conhecimento técnico.
“Timor-Leste tem que ter a consciência de que deve dominar o português. Sem ele, perdemos a nossa identidade linguística própria no mundo de hoje”, disse Domingos Alves, reitor do Instituto Filosofia e Teologia de Fatumeta (IFTF).
No 3.º Congresso Nacional da Educação, o padre timorense rejeitou o que disse serem comentários “inúteis e infrutíferos” dos que se referem à língua portuguesa como “língua dos colonialistas”, e disse que aprender a 5.ª língua mais falada no planeta “é uma mais-valia”.
“É o nosso objetivo na educação atingir a qualidade de ensino. Para isso deve haver unidade de pensamento nacional na educação e não cada um puxar a brasa à sua sardinha”, afirmou.
“Timor-Leste não é um campo de fazer experiências ao sabor de quem tem mais poder, mas sim um lugar onde os planos devem ser bem preparados”, considerou.
Ainda que o inglês possa ser mais fácil de aprender, “não é por ser fácil que identifica um povo”, especialmente no caso dos timorenses que usaram o português “como língua da resistência” e que, apesar das carências de se “ensinar no mato” muitos falavam e escreviam corretamente, disse.
Os cursos de inglês “estão espalhados em todos os cantos de Díli”, disse Domingos Alves, que aludiu a dificuldades dos docentes para ensinar a língua portuguesa, o que pode explicar a ausência de cursos de português.
“Para que o processo da educação em Timor-Leste possa alcançar a sua perfeição e qualidade, o Ministério da Educação deve envidar todos os esforços necessários para aprimorar a qualidade dos seus professores e tornar fácil a aprendizagem da língua portuguesa”, considerou.
“Para isso tem à sua volta instituições de parcerias, entre as quais a igreja, que pode contribuir imenso nesta luta comum”, referiu.
O padre lembrou o papel pioneiro da igreja no setor educativo em Timor-Leste e insistiu que o Governo deve facilitar a abertura de novos colégios, internatos ou semi-internatos “que obrigam os alunos a estarem mais tempo na educação diária”.
Um esforço que também ajudará a “combater a indolência e apatia escolar e o baixo nível intelectual dos jovens” e as carências educativas do início da escolaridade que criam jovens com “uma vacuidade de pensamento crítico, reflexivo e lógico”.
Alves juntou a sua voz à dos que defendem um aumento do orçamento para a educação, que ronda apenas 6% do Orçamento do Estado timorense, mas desafiou igualmente o setor privado, a sociedade civil e a própria igreja a “tomarem a peito a questão importantíssima da educação”.
Domingos Alves destacou os desafios demográficos, considerando que num país onde cerca de metade da população tem menos de 15 anos o Governo tem, a curto e médio prazo, que apostar nos ensinos primário e técnico.
Entre outros aspetos, o responsável defendeu mais e melhor formação de professores, apoiando a ideia de criação de uma escola de raiz para docentes.
Em termos históricos, Domingos Alves disse que a independência de Timor-Leste se deve, paradoxalmente, à presença colonial portuguesa e aos esforços independentistas dos timorenses.
Se navegadores e missionários portugueses não tivessem chegado a Timor, “não estaríamos independentes, seríamos certamente uma das províncias da Indonésia e não seríamos católicos mas muçulmanos”, considerou.