Timor-Leste/Eleições: Eleitorado timorense ainda ligado a líderes históricos

Díli, 12 jul (Lusa) – O ex-presidente timorense José Ramos-Horta disse hoje à Lusa que a maioria do eleitorado timorense continua “política, psicológica e emocionalmente ligada” à geração de 1975, fator que vai ser determinante nas legislativas de 22 de julho.

“A maioria ainda se identifica com os líderes históricos, nomeadamente Xanana Gusmão, Mari Alkatiri, Taur Matan Ruak”, disse, em entrevista à Lusa em Díli.

Algo que se deve também à cultura timorense, “uma cultura fundamentalmente patriarcal em que o mais velho significa experiência e sabedoria” e “por ser jovem, a jovem geração, mesmo que tenham PHD de Coimbra ou de Harvard, não vai lá”.

No entanto, Ramos-Horta disse que já está ativa uma nova geração de pessoas que “mostraram sentido de Estado, de responsabilidade e de experiência”, apontando como exemplo o atual chefe do Governo, Rui Maria de Araújo.

José Ramos-Horta considera que a nova geração vai ter um papel no dia 22 de julho, quando muitos apoiarão a Fretilin (de Mari Alkatiri), o PLP (de Taur Matan Ruak) e até o PD (do mais jovem Mariano Sabino), mas que “Xanana ainda é Xanana, ainda inspira muita confiança”.

“Xanana tem estado presente diariamente nas televisões, nas imagens ao longo destes 10 anos. Ainda tem um peso significativo. E podemos discordar de algumas atuações dele enquanto governante, mas o ‘Zé povinho’ que está no interior não se preocupa nada”, considerou.

“Eles veem estradas nacionais e para os sucos e aldeias a ser construídas. Continuam a receber as pensões dos veteranos, os 39 dólares por mês para os maiores de 60. Dos órfãos e das viúvas e pensam que isto veio com o Xanana. E pensam que sem o Xanana podem perder isto. Ainda tem um grande reservatório de apoio nos distritos, sucos e aldeias”, considerou.

Ramos-Horta acha pouco provável um cenário de maioria absoluta, considerando que se deve repetir uma situação como a dos últimos anos “em que o partido vencedor terá que negociar coligação ou apoios”.

Num cenário em que o CNRT vença, Ramos-Horta acha pouco provável que a Fretilin aceite “uma coligação em que está subalternizada ao partido vencedor”, pelo que pode ser difícil repetir-se um cenário como o atual, em que membros da Fretilin (ainda que não formalmente pelo partido), integram o atual executivo – entre eles o próprio primeiro-ministro.

“O arranjo recente que se pode chamar a geringonça timorense não me parece que agrade à Fretilin. A Fretilin fez isso apenas para cimentar as relações com Xanana e com o CNRT, com algum sentido de Estado e de responsabilidade. Mas não me parece que tenha beneficiado muito a Fretilin”, disse.

Se o CNRT ganhar, Xanana Gusmão convidará todos para o diálogo, para procurar caminhos para os próximos cinco anos, procurando “consolidar a estabilização e boa governação, combater a corrupção” no que será eventualmente o final da sua carreira política, disse.

A incógnita é, admitiu, perceber se mesmo ganhando ocupará o cargo de primeiro-ministro – recorde-se que em 2015 demitiu-se do cargo, ficando como ministro.

“Estaria fora, no partido, apoiar quem ele propôs para primeiro-ministro, preparar a aliança e uma grande coligação que possa surgir. Ele estaria muito melhor assim fora da pasta de primeiro-ministro”, defendeu.

Nesse cenário, apontou, há alternativas para o cargo como Agio Pereira, atual ministro de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros, ou Dionísio Babo, atual ministro Coordenador dos Assuntos da Administração do Estado e da Justiça e ministro da Administração Estatal.

Horta considera até possível negociação entre CNRT e PLP – e apesar da tensão entre Taur Matan Ruak e Xanana Gusmão.

“Haverá palavras de pedido de desculpas por parte de Taur Matan Ruak a Xanana Gusmão. Não concordei, não concordo que um chefe de Estado vá ao Parlamento dizer o que disse, sobre Xanana ou sobre Mari Alkatiri, especialmente sem substância”, afirmou.

A relação deteriorou-se depois de um polémico discurso no parlamento em que Taur Matan Ruak comparou Xanana Gusmão a Suharto, acusando os líderes do CNRT e da Fretilin de corrupção e nepotismo.

ASP // VM – Lusa/Fim
O ex-Presidente timorense, José Ramos-Horta, passeia nas ruas de Dili no seu carro, Dili, Timor-Leste, 10 de julho de 2017. Ramos-Horta considera que a maioria do eleitorado timorense continua "politica, psicológica e emocionalmente ligado" à geração de 75, fator que vai ser determinante nas eleições de 22 de julho. (ACOMPANHA TEXTO DE 12/07/2017) NUNO VEIGA/LUSA
O ex-Presidente timorense, José Ramos-Horta, passeia nas ruas de Dili no seu carro, Dili, Timor-Leste, 10 de julho de 2017. NUNO VEIGA/LUSA

 

Subscreva as nossas informações
Scroll to Top