Texto dePostado em 18 Julho, 2016 11:30 GMT
A direção da Escola Básica Central de Fatumeta, em Díli, esta a aplicar uma regra que proíbe os seus estudantes em falar a língua local ou a língua materna dentro daquele estabelecimento de ensino sendo o Português a única língua autorizada.
De acordo com o jornal Timor Post, a diretora da Escola, Fernanda Belo, defende que só se pode falar Português e “quem não souber falar, é melhor estar calado”, diz o jornal. A notícia refere que caso os alunos falem outra língua, que não seja a língua portuguesa, “são multados”.
No artigo, escrito na língua Tétum, Fernanda Belo declara o seguinte:
A diretora da escola sublinha que esta regra foi estabelecida com o consentimento dos pais e encarregados de educação dos alunos. A professora justifica que aplicou a multa de forma a ajudar os alunos a falarem Português.
Após a independência sobre a Indonésia, obtida em 2002, Timor-Leste adotou a língua portuguesa – juntamente com a língua tétum – de língua oficial do país mas, em 2012, relatos dão conta que apenas 15% da população falava Português:
Apesar de fazer parte da CPLP, Timor-Leste é um dos países com menor penetração da Língua portuguesa. Por todo o território falam-se cerca de 20 línguas e dialetos para além do Indonésio. Apenas 15% da população fala Português.
Contudo, a regra aplicada pela diretora da escola aparenta ir contra a lei do ensino em Timor-Leste. A Presidente da Fundação Alola e Embaixadora da Boa Vontade para os Assuntos da Educação, Kirsty Sword Gusmão, prometeu ao Global Voices – em conversa através do Facebook – verificar a legitimidade desta situação porque:
Na opinião de Kirsty Gusmão:
Conversamos, igualmente, com João Paulo Esperança, linguista Português a viver em Díli há largos anos. O professor reagiu sobre este assunto, da seguinte maneira:
Penso que primeiro há que confirmar qual é a situação real nesta escola, mas eu, pessoalmente, não concordo com políticas escolares que proíbam os alunos de falarem a língua que quiserem no recinto escolar, fora da aula. E pode haver também famílias sem possibilidades económicas de pagar estas multas. Mas creio que não é com má intenção que alguns diretores e professores tentam implementar medidas destas. Antigamente as escolas em Timor usavam muito os castigos corporais, a língua de ensino era o português e, depois da invasão, o indonésio, e os alunos eram punidos fisicamente por falarem outras línguas; era essa a experiência pessoal da maior parte das pessoas, mas a pedagogia moderna recusa que se possa bater aos alunos, por isso alguns professores tentam usar essas multas como um castigo alternativo. Quanto à tentativa de criar uma escola de imersão em língua portuguesa, isso terá provavelmente a ver com o facto de as escolas vistas como modelo em Timor também o serem, e isto inclui, por exemplo, a Escola Portuguesa, as Escolas de Referência e o mítico Externato de São José. Aliás, ultimamente tem surgido uma tendência que nos devia fazer pensar: muitos pais da classe média-alta que não conseguem vaga nessas escolas de imersão em língua portuguesa aqui em Díli estão a colocar os filhos em escolas filipinas de imersão em língua inglesa.
Estanislau Saldanha, Presidente do Conselho Permanente, do Conselho de Administradores do (DIT – Dili Institute of Technology) comenta:
Virgilio da Silva Guterres, Presidente do Concelho de Imprensa de Timor-Leste diz:
Kashogy Junior, tem os irmãos mais novos a estudar no ensino básico, em Díli. O Timorense comenta o seguinte:
As reações à notícia do Timor Post tiveram bastante repercussão entre os timorenses. Os leitores do jornal estão chocados e indignados com a ação da escola porque o Tétum também é a língua oficial de Timor-Leste e a multa aplicada aos alunos está a ser “exagerada”.