Lisboa, 10 jan (Lusa) – A empresária angolana ‘Tchizé’ dos Santos afirmou hoje que prevê lançar este ano um canal de televisão para Angola e Moçambique e disse que voltava a fazer tudo da mesma forma na gestão dos canais estatais em Angola, cuja gestão perdeu em 2017.
A posição foi transmitida numa entrevista à Lusa, em Lisboa, por Welwitschea ‘Tchizé’ dos Santos, que é também deputada e filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, e que em 2017 viu o chefe de Estado, João Lourenço, retirar a gestão do canal 2 e do canal internacional da Televisão Pública de Angola (TPA) às empresas de que é acionista, juntamente com o irmão, José Paulino dos Santos ‘Coreon Dú’.
“Voltava a fazer tudo da mesma forma”, afirmou, negando as acusações de nepotismo e de ilegalidade na atribuição do contrato, por ajuste direto, quando o pai era chefe de Estado (1979-2017).
“Vamos fazer aqui um paralelismo: se o Cristiano Ronaldo fosse filho do presidente da Federação Portuguesa de Futebol podia ou não podia ser jogador da seleção?” – questionou.
Sobre o contrato, recorda que a lei da contratação pública em Angola prevê a modalidade do ajuste direto. Relativamente ao nepotismo, recorda que as produções feitas naquele período chegaram a conquistar prémios internacionais, como foi o caso da telenovela “Jikulumessu”, que em 2015 venceu o Seoul International Drama Awards, além da nomeação para os prémios Emmy, nos Estados Unidos.
“Não era o José Eduardo dos Santos que decidia isso”, ironizou, reconhecendo que não vê “há muito tempo” a atual TPA 2 – cuja gestão foi assumida pela própria televisão estatal no final de 2017.
“Ao fim de seis meses já ninguém conseguia ver aquele canal”, atirou, recordando que o canal, anteriormente, era líder de audiências em Angola.
“Sinto-me muito grata pela experiência (…) por sentir que os melhores, do ponto de vista da produção, da apresentação, foram formados por nós”, afirmou.
A empresária, que prepara o lançamento, em 2019, do canal por cabo “Vida TV”, com distribuição para Angola e Moçambique, garante que a gestão da TPA 2 e da TPA Internacional “foi um caso de meritocracia”.
Vai ainda mais longe nas críticas, dizendo que talvez pelo apelido, não foi “chamada” para a cerimónia de novembro último, na qual o Presidente angolano outorgou medalhas a várias personalidades que se distinguiram nas diversas áreas.
Na ocasião, “deram ao sobrinho de Jonas Malheiro Savimbi [fundador da UNITA], Demarte Pena, porque foi campeão mundial de vale tudo. Eu pergunto-me, o angolano que pôs a televisão angolana no mundo [lançamento da TPA Internacional] é menos importante que o angolano que ganhou campeonatos de vale tudo? Se calhar, se o meu nome fosse Luísa Savimbi ia lá receber a medalha… se calhar não”, ironizou.
Aos 40 anos, ‘Tchizé’ dos Santos é hoje a única do ‘clã’ de José Eduardo dos Santos no Comité Central do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e deputada há três legislaturas consecutivas, e explicou que desde 2008 que deixou de ser gestora, por incompatibilidade legal com o cargo no parlamento, tendo passado a investidora.
“E continuo a fazer investimentos, isso não é ilegal”, atirou.
Além do canal de televisão em preparação, garante que está no horizonte dos seus investimentos a expansão para Portugal da cadeia de restauração de luxo TEN, já em funcionamento na marginal de Luanda.
“Dizem-me os meus administradores que estão em negociações para a internacionalização” da marca. “Tudo o que eu faço visa mostrar o lado bom de Angola e gostava de ver cá este conceito, de ver o funge [prato típico angolano] ‘gourmet’ servido em Portugal”, disse.
A empresária recordou ainda que entrou nos negócios com apenas 16 anos, quando já frequentava a universidade – iniciou o ensino primário com quatro anos -, organizando festas, tendo mais tarde começado a editar uma revista sobre famosos em Luanda, antes de garantir, em 2004, os direitos de distribuição para Angola de uma revista internacional.
“Nunca gostei de pedir nada aos meus pais, nem semanada, nem sequer pedia”, assumiu.
Nas primeiras férias da faculdade diz ter decidido que iria “ganhar dinheiro” com as festas para os colegas, que organizava com o apoio do estilista português Augustus, seu padrinho, que então fornecia os vestidos.
“A primeira festa deu 5.000 dólares, muito dinheiro, para uma rapariga de 16 anos. Eram 1.000 contos, muito dinheiro, dava para o semestre todo (…) E foi assim que eu comecei”, rematou.