Lisboa, 22 jun 2023 (Lusa) – O coordenador do Iberifier, Ramón Salverría, afirma, em entrevista à Lusa, que a segunda etapa do observatório Iberifier é “ampliar o espectro” para os países onde se fala português e castelhano, além do território peninsular.
Iberifier é um projeto que visa combater a desinformação e integra 23 centros de investigação e universidades ibéricas, as agências noticiosas portuguesa, Lusa, e espanhola, EFE, e ‘fact checkers’ como o Polígrafo e Prova dos Factos – Público, de Portugal, e Maldita.es e Efe Verifica, de Espanha.
“O objetivo da segunda etapa do Iberifier é ampliar o espectro e não simplesmente ficar num território peninsular dos dois países, mas enfrentar o desafio da desinformação na área linguística do português e do espanhol”, diz Ramón Salverría.
“São centenas de milhões de pessoas que falam as nossas duas línguas ao longo do mundo, na Europa, mas também na América e em África e na Ásia” há “muitos países que têm essa a comunidade cultural da linguística e uma das questões que foi confirmada pelas pesquisas feitas até agora é que o desafio da desinformação tem um espaço global”, prossegue o responsável.
Portanto, “achamos que dar essa oportunidade de ampliar os nossos trabalhos para um âmbito mundial que abrange as duas línguas pode ser um projeto importante”, acrescenta.
Ramón Salverría adianta que o primeiro passo nesse sentido já foi dado e passou por estabelecer contactos com organizações de verificação de factos, os chamados ‘fact checkers’, “de diferentes partes da América Latina”, onde se inclui a América Lusófona e países de língua espanhola.
“Uma das linhas de trabalho desse projeto, na estratégia geral do Iberifier de futuro vai ser também tratar de colaborar com essas organizações de ‘factk checking’ e tratar de estabelecer projetos conjuntos, partilhar tecnologias, também técnicas de verificação informativa”, entre outros.
Durante a pandemia, assistiu-se a um “nível de contestação a determinadas políticas públicas de saúde, em particular em vários países da América Latina”, de muito maior dimensão do que em Espanha e Portugal.
A resistência à vacinação e outras medidas de saúde pública “tiveram conexão muito forte com linhas de mensagens desinformativas”, o que demonstra uma “sensibilidade ou uma capacidade de influência de conteúdos desinformativos” na América Latina, mas isso “não significa que Portugal e Espanha sejam países livres desse tipo de ameaças”, refere.
Relativamente à criação de indicadores para medir a desinformação, que constam do relatório “Análise do impacto da desinformação na política, economia, sociedade e questões de segurança, modelos de governança e boas práticas: o caso de Espanha e Portugal”, divulgado na quarta-feira, o responsável defende que estes são necessários para combater as ‘fake news’.
“É fundamental para poder enfrentar o problema da desinformação, não só à escala ibérica, mas eu diria à escala europeia, estabelecer uma série de padrões ou indicadores práticos que permitam detetar quando existe uma ameaça” que resulta de uma campanha de desinformação que está a alcançar distintos países”, prossegue.
Isso também é importante ao “nível de transferência que essa desinformação” pode estar a alcançar em diferentes áreas da sociedade.
“Estamos a desenvolver uma série de parâmetros que são quantitativos e que permitam num dado momento determinar a exposição e o perigo de uma campanha de desinformação” e, portanto, poder tomar medidas rapidamente”, explica Ramón Salaverría.
“No relatório que foi apresentado [na quarta-feira] existem já uma série de parâmetros que foram desenvolvidos especificamente”, mas agora “temos um trabalho a fazer com o resto dos ‘hubs’ europeus para definir parâmetros comuns”, remata.
O estudo, refere, é uma dos grandes contributos do projeto, o “mais importante relatório” dos dois primeiros anos do projeto, e pretende oferecer “referências quantitativas, análises e estratégicas para enfrentar” a desinformação por parte de várias entidades.
O consórcio é um dos 14 observatórios multinacionais de meios digitais e desinformação promovido pela Comissão Europeia, tem como coordenador Ramón Salaverría, da Universidade de Navarra, e inclui, entre outras, a Universidade Carlos III, de Santiago de Compostela, de Espanha, e ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa e Universidade de Aveiro, de Portugal.
O estudo está disponível no ‘site’ https://iberifier.eu/.
ALU // CSJ – Lusa/Fim