São Tomé, 20 set 2022 (Lusa) – Um camião a debitar música em decibéis excessivos, com cartazes da Ação Democrática Independente (ADI, oposição), estacionado junto ao mercado municipal de São Tomé, era hoje de manhã exceção à campanha para as legislativas, que decorre em tom morno.
Nas ruas da capital são-tomense praticamente só são visíveis cartazes de maior dimensão do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD, no poder) e da ADI, que também têm espalhadas pela cidade pequenas bandeirolas, muito já rasgadas pelo vento.
Além dos dois maiores partidos, a candidatura do Movimento Social Democrata/Partido Verde, encabeçada por Elsa Garrido, tem alguns cartazes visíveis no edifício do mercado. Depois, aqui e ali, vê-se cartazes de tamanho A3, colados nas paredes, do movimento Basta ou do Movimento Democrático Força da Mudança/União Liberal (MDFM/UL).
Raramente passa uma carrinha identificada com a propaganda de algum partido.
Na praça junto ao mercado municipal, onde em campanhas eleitoral anteriores os postes e árvores cobertos de cartazes das candidaturas e pequenas bancas dos partidos emitiam música e slogans através de grandes colunas, a vida decorre, por estes dias, com normalidade.
No exterior do mercado, ‘palaiês’ (vendedores ambulantes) espalham, em mantas no chão ou em mesas, todo o tipo de produtos, desde legumes a material escolar, farinhas, detergentes, roupa ou tecnologias.
A cinco dias das eleições legislativas, a campanha está “estranha”, comentaram à Lusa cidadãos são-tomenses e empresários portugueses.
“Os políticos andaram muito tempo a brincar com o povo, a comprar a consciência das pessoas”, disse um jurista são-tomense, referindo-se ao fenómeno do ‘banho’, a compra de votos frequentemente junto aos locais de votação.
Segundo o jurista, para os são-tomenses, a campanha eleitoral é “um momento de festa” e os eleitores “já aprenderam”.
“Eles querem comer, beber, dançar, e acabam por ir com todos os partidos, mas já sabem muito bem em quem vão votar”, referiu.
Para o analista político Celsio Junqueira, “a campanha está muito discreta”.
“Há pouco dinheiro, as forças não conseguiram angariar fundos”, devido à situação internacional, disse.
Além disso, considerou que as eleições presidenciais do ano passado “influenciaram de forma negativa o eleitorado”, que ficou desconfiado da classe política, que distribuiu cabazes alimentares e ofertas depois de um período de crise causada pela covid-19.
“O povo interpretou como uma má-fé e agora não embarca muito nas promessas, nas ofertas”, afirmou o analista, que vaticinou que “estas eleições são um processo de transição, o país vai ter de se habituar a não ter um fluxo financeiro anormal”.
Um ativista social comentou, por seu lado, que o tom morno da campanha eleitoral também decorre do “descrédito e falhanço sucessivo” dos governos.
“As pessoas não estão assim tão motivadas”, considerou.
Um português, proprietário de um restaurante, disse estranhar o ambiente: “No domingo houve um grande comício [do ADI, quando regressou ao país o seu líder, Patrice Trovoada], e quando acabou, toda aquela gente desapareceu”.
Outro empresário português concordou: “Na capital, está morno, mas no sul a campanha está mais forte”.
Mesmo sem uma campanha intensa, os são-tomenses não dispensam um debate político, por vezes acalorado.
Um homem envergando uma ‘t-shirt’ do movimento Basta discutia, hoje de manhã, com um grupo de motoqueiros, que defendiam a ADI.
“ADI já ganhou, já ganhou”, diziam os jovens, enquanto o apoiante do Basta respondia que Patrice Trovoada, antigo primeiro-ministro, “chegou no domingo e na sexta já vai embora”.
Depois de algumas trocas de argumentos, rapidamente a discussão se desfez, entre risos.
No total, 11 partidos e movimentos, incluindo uma coligação, concorrem às legislativas de 25 de setembro, no mesmo dia em que decorrem eleições autárquicas e para o governo regional do Príncipe.
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